X
X

Buscar

Vencendo a morte

Mãe de gêmeos que nasceram grudados pelo abdômen supera dificuldades financeiras e de saúde para criar filhos

Há 19 anos, Leonita Maria Perazza, hoje com 51 anos, já era mãe de Thais Alves e Tainara Perazza, na época com 7 e 3 anos, respectivamente, quando descobriu durante uma consulta médica que estava grávida novamente. No entanto, a gravidez dos gêmeos não foi fácil.

Aos dois meses de gestação, em 2000, os médicos descobriram que os meninos eram siameses durante um ultrassom. A notícia preocupou a mãe que, com medo das crianças não sobreviverem, começou a procurar por médicos que pudessem ajudá-la.

Ela recorda que na época o médico que a atendeu informou que os meninos eram ligados apenas pela pele. No entanto, após o nascimento foi descoberto que eles também compartilhavam o fígado.

Durante a gestação, o pai dos meninos abandonou Leonita. A mãe confessa que procurou por ele diversas vezes antes e depois do nascimento pois precisava de ajuda, mas não conseguia encontrá-lo.

Sozinha, grávida e com duas meninas para criar, muitos olhavam para Leonita com pena. Ao fim da gravidez, ela quase não saía de casa. “Eu passei fome na gravidez, isso eu não tenho vergonha de dizer”.

Gabriel Perazza Fischer ao lado da mãe Leonita Maria Perazza e Lucas Perazza Fischer / Foto: Eliz Haacke

Na véspera do nascimento dos filhos, ela começou a sentir as dores do parto. Ela não tinha telefone e os vizinhos estavam muito longe para ajudá-la. Por sorte, o irmão foi fazer uma visita e a levou ao hospital. Como era começo de ano, havia poucas pessoas na cidade e o médico que acompanhou a gestação não estava em Brusque.

Ela precisou ser encaminhada para um hospital em Joinville. Enquanto o irmão dirigia até a cidade, ela sofria e gritava tamanha a dor que sentia. Quando chegaram no local, o médico não sabia que os gêmeos eram siameses e disse que ela precisaria ir para Curitiba.

“Nessa hora chegou o doutor Percy Sandoval Ribeira e disse que eu era paciente dele. Eles me encaminharam para o Hospital Dona Helena. Ele me levou e foi como entrar no céu”, lembra.

Até então, Leonita só conhecia o médico, mas não tinha se consultado com ele. Ela garante que se não fosse Percy, os gêmeos não estariam vivos.

Lucas e Gabriel Perazza Fischer nasceram no dia 5 de janeiro de 2001. Eles estavam conectados pelo abdômen e, por isso, não poderiam ficar assim por muito tempo. Três dias após o nascimento, Leonita foi ver os filhos pela primeira vez. “Levei um choque. Eu vi que tinha mais coisa e não era só a pele grudada”.

Como não tinha noção da gravidade, Leonita nunca imaginou que perderia os filhos, mesmo enquanto estava grávida. O caso da família do bairro Dom Joaquim chamou atenção de toda imprensa que abarrotou o hospital para acompanhar a história.

A mãe recorda que a produção do Programa do Ratinho, da emissora SBT, foi até o hospital para conversar com ela e mostrar a história das crianças.

Álbum mostra fotos da época de recém nascidos e recortes com reportagens dos gêmeos siameses / Foto: Eliz Haacke

A programação dos médicos para separar os gêmeos siameses era para 1 ano e meio de vida, mas no caso dos meninos, eles fizeram a separação pouco antes de completarem dois meses.

Três dias antes da separação, a situação dos meninos piorou e um deles chegou a ficar sem batimentos cardíacos. Felizmente, os médicos conseguiram reanimá-lo. Devido à situação, foi preciso realizar a cirurgia para salvar a vida dos meninos. A mãe recorda de uma conversa em que informaram que talvez seria preciso escolher entre um dos dois. “Eu disse ‘não vai ser preciso escolher, os meninos vão sair dessa’”.

Após a cirurgia, Lucas corria risco de vida. Leonita precisou buscar força na fé. Após a operação, ela lembra de ir até uma janela do hospital e pedir ajuda para Nossa Senhora Aparecida para que os meninos sobrevivessem e pudessem ir para casa com a mãe. Ela recorda que um clarão no céu mostrou a imagem da santa. “Ali eu soube que iria para casa com os dois vivos e bem de saúde”, conta.

O otimismo da mãe deixou os médicos incrédulos, pois a situação dos meninos não era boa. No dia seguinte, eles chamaram Leonita para ver os gêmeos que estavam brincando e rindo. Ela já era devota de Nossa Senhora na época, mas após a recuperação dos filhos, sua admiração cresceu mais ainda.

Com a cirurgia, Lucas deu uma parte do fígado para o irmão Gabriel. Hoje, os meninos precisam usar aparelho auditivo pois a audição de ambos é baixa. No entanto, ela e os filhos estão bem.

Durante todos esses anos, o médico Percy visita e ajuda a família que é humilde. Para Leonita, ele foi o anjo das crianças. Após todas as batalhas da vida, a mãe incentiva os filhos a continuarem os estudos. Lucas e Gabriel garantem que já pensam em fazer faculdade de Administração.


Você está lendo: Vencendo morte


– Introdução
– Surpresa no dia do parto 
– Gêmeos em dobro
– Unidas pela maternidade
– O ABC da psicóloga
– As três Marias de São João Batista
– Gerações de gêmeas
– Rua dos cinco gêmeos 
– Superação após perda 
– Os meninos da casa