Usuários de ônibus de Brusque reclamam de veículos cheios; empresa explica
Diretor de concessionária explica mudanças nas operações do serviço; infectologista avalia limites na capacidade
Usuários do sistema de transporte coletivo de Brusque têm reclamado da frequência com a qual os ônibus têm tido todos os seus assentos ocupados e, em alguns casos, sem janelas abertas durante a pandemia de Covid-19, em especial após reduções de horários exercidas partir de 6 de julho.
De acordo com o diretor da concessionária Nosso Brusque, Artur Klann, as medidas quanto à ocupação foram tomadas para viabilizar o serviço. O atendimento chegou a 30% do normal, enquanto a frota é mantida 100% em atividade.
A reportagem usa nomes fictícios para duas usuárias do transporte coletivo de Brusque, que preferem não ser identificadas. Uma delas é Débora*, que afirma que em algumas linhas, como Zantão e Beco Pavesi, os ônibus possuem ar-condicionado e as janelas não têm como ser abertas. “No sol, as pessoas de máscara, sem ar, motorista não pode ir com a porta aberta, é bem complicado.”
Ela sugere que seja realizada algum tipo de campanha para que as pessoas busquem deixar as janelas abertas permanentemente. “É difícil, sempre tem gente com máscara no queixo, debaixo do nariz, gente comendo no ônibus… Gente que briga com o motorista porque entra sem máscara e é repreendida… A gente cansa. Talvez se fosse para as pessoas usarem máscara no queixo, aí sim usariam do jeito certo.”
Klann explica que, no caso dos ônibus sem abertura de janela, o ar condicionado não é utilizado. No entanto, há algumas saídas de ar nestes ônibus, como uma porta no teto e sistema de ventilação interna. “Fazemos a higienização diariamente, os ônibus são lavados quase o tempo inteiro. São funcionários só com esta função. É um custo a mais, mas é necessário.”
Outra usuária, Francisca*, reclama dos ônibus com todos os assentos ocupados, situação que se tornou mais frequente após a redução de horários. “Tem gente que prefere ir de pé para ficar com o distanciamento, melhor do que ficar um do lado do outro. Mas somos obrigados a ir sentados.”
Ela afirma que a redução de horários não incentiva as pessoas a ficarem em casa como anunciado, mas apenas gera apenas mais filas e aglomerações, com ônibus mais cheios.
Artur Klann confirma que houve reclamações, e acredita que seja porque quando o transporte coletivo voltou a operar, alguns ônibus costumavam ter muito menos pessoas em seus trajetos. O diretor afirma que a empresa tem seguido todas as regras.
“Transportamos os usuários de acordo com os bancos disponíveis no ônibus. Temos relatos de passageiros que não quiseram sentar um do lado do outro, aí foram em pé. É uma decisão do passageiro, mas não sentou porque não quis. Estamos levando bem à risca.”
Alguns horários foram excluídos por falta de demanda no momento. Desta forma, a ideia é que o serviço fique menos caro para a concessionária.
Sentado ou em pé, tanto faz
De acordo com o infectologista Ricardo Freitas, não há diferença prática entre estar sentado no assento ao lado e estar de pé no ônibus. No entanto, em sua opinião, o fato de pessoas estarem de pé no ônibus traz a impressão ao público de que os ônibus estão lotados e de que a situação está normal.
“A principal situação é a aglomeração, a gente sabe que não pode haver. Uma lotação de 50%, 60% do ônibus já dá uma situação segura de não termos uma aglomeração. E com janelas abertas para circulação do ar, a possibilidade de transmissão é bem mais reduzida. Temos também que viabilizar o transporte do ponto de vista econômico, não pode circular um ônibus com três pessoas dentro, aí nem se abriria o transporte coletivo.”
Klann relata que, no bairro Limeira, a demanda por ônibus era muito maior do que a ofertada. Neste caso, um ônibus e um motorista de plantão podem atender o excedente de maneira imediata. “É um ônibus extra, são praticamente dois no mesmo horário. Mas estamos tentando lidar dessa forma, já solucionamos. Na Limeira, este ônibus é necessário diariamente. E cada caso é um caso.”
Com o aumento mais veloz da quantidade de casos e óbitos por conta da pandemia, a Prefeitura de Brusque determinou novas medidas restritivas. O transporte coletivo voltou funcionar em Brusque em 8 de junho, e conforme o último decreto, nada muda, além da necessidade do serviço ser encerrado até as 23 horas.
*nome fictício