STJD pune Brusque com perda de três pontos na Série B por caso de injúria racial contra Celsinho
Clube ainda recebeu multa, assim como o conselheiro do clube, acusado pelas ofensas
A Quinta Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) puniu o Brusque em R$ 60 mil e perda de três pontos no Brasileirão Série B em julgamento realizado nesta sexta-feira, 24, pela conduta no caso de injúria racial contra Celsinho na partida contra o Londrina, pela 21ª rodada da competição. O clube ainda pode recorrer.
Além disso, o STJD condenou o conselheiro do clube Júlio Antônio Petermann, no artigo 243-G, por prática de ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele foi suspenso por 360 dias das praças de futebol e recebeu multa de R$ 30 mil.
Por causa da nota, por não fiscalizar o comportamento dos profissionais do clube, possibilitando que os mesmos agissem como torcedores, o Brusque também foi responsabilizado por violar itens da Diretriz Técnica Operacional de Retorno das Competições da CBF, infringindo o artigo 191, II, III do CBJD. A multa de R$ 60 mil ao Brusque foi aplicada por maioria e a perda de pontos foi feita de forma unânime.
A hipótese de exclusão do clube da competição foi rechaçada pelos cinco julgadores.
Defesa
Presidente do Conselho Deliberativo, que foi afastado pelo Brusque, Júlio Antônio Petermann reconheceu que usou o termo “cabelo de cachopa de abelha”, mas não relacionado à cor da pele de Celsinho. “Foi um adjetivo comum que usamos na região. Se fosse o David Luiz, usaria a mesma expressão”, disse.
Apesar do afastamento anunciado pelo clube, o presidente do Tribunal, Otacílio Araújo Neto, destacou que Júlio fez o seu depoimento utilizando uma conta que o identificava como “Brusque FC”.
Valdecir Figueiredo, de empresa contratada pelo Brusque para fazer laudo, foi ouvido como informante e declarou que, “em hipótese alguma foi constatada a expressão macaco” no vídeo divulgado pelo clube paranaense nas redes sociais, mas também que não é possível identificar qual o termo exato pela qualidade do material.
Ele disse que, na análise de áudio, também não foi identificada o termo “cachopa de abelha” na gravação, que Júlio admitiu ter usado. Questionado se a palavra macaco poderia também ter escapado dos equipamentos de captação, Valdecir disse que isso era possível, mas que o termo não estava na gravação divulgada pelo Londrina.
Ele também disse que não houve manipulação no vídeo, mas sim uma edição, com legenda, que leva a entender que a palavra foi proferida.
Valdecir citou que a análise foi feita nas imagens fornecidas pelo Brusque e do vídeo divulgado pelo Londrina, mas que não foi utilizado material da emissora detentora dos direitos de transmissão. Ele relatou que solicitou a gravação original e que o clube pediu à Rede Globo, que informou que só cederia sob ordem judicial.
Relato de representante da CBF
Coordenador da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), relatou que Júlio foi levado ao camarote para preservar o fato ocorrido. “Se tirasse do estádio, estaríamos perdendo uma parte do fato. Não ouvi [as ofensas raciais], mas o Celsinho me procurou logo após o fim do primeiro tempo e eu solicitei à supervisão de arquibancada que o levasse ao camarote”.
Ricardo disse que, quando acionado pelo Londrina, não foi citada a palavra macaco, mas sim ofensas vindas de Júlio.
Ele relatou que não ouviu o termo macaco mesmo estando próximo da arquibancada. O coordenador completou dizendo que havia uma discussão entre banco e arquibancada já acontecendo antes do fato.
“O que me machuca é a questão familiar”
Meia do Londrina, Celsinho foi ouvido como testemunha. Ele relatou que o primeiro questionamento dos jogadores foi sobre a quantidade de pessoas na arquibancada, o que começou uma discussão.
“Eles nos xingavam quando a gente ia reclamar com o quarto árbitro. Não usamos palavrões. Fui educado a não destratar ninguém, então não direcionei nada a uma pessoa específica”.
O jogador disse que sentiu muito o fato pelo reflexo na sua família. “É pesado e constrangedor dar satisfação ao meu filho de 14 anos que as pessoas ainda usam esse tipo de termo. O que realmente me machuca é a questão familiar, ver minha mulher e filho chorando. É por isso que vou até o final nesses casos”. Celsinho já entrou com processo por outros dois casos de racismo que aconteceram neste ano, cometidos por equipes de rádio de Goiânia e Belém.
“Ele se sentiu confortável com o que falou”
O jogador do Londrina disse que interpretou a fala de Julio com tom raivoso. “O que mais me incomodou foi que ele se sentiu confortável com o que ele falou. É como se fosse algo prazeroso, quisesse me atingir. E funcionou, porque fiquei enlouquecido. No momento, não poderia fazer nada além de conversar com os encarregados da partida. Tentei agir com a razão, mas a emoção tomou conta porque me atingiu”
Ele relatou que ouviu a expressão macaco no início do segundo tempo, quando se dirigiam para o aquecimento. “Ouvi alto e claro. Disse ao Germano (executivo de futebol do Londrina), que não poderia apontar ninguém porque não vi, só ouvi. Por isso, não comuniquei à arbitragem”.
Sobre o comunicado oficial do Brusque, ele classificou como “ridículo”. “Não sei o que eu ganho com isso. Eu vou para o estádio para jogar futebol, ser feliz. Aquela nota foi absurda, me colocando como criminoso da situação”.
Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município. Clique na opção preferida:
• Aproveite e inscreva-se no canal do YouTube