João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Sete de Setembro, um começo sem glória

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Sete de Setembro, um começo sem glória

João José Leal

Amanhã, esta nação tão desigual política e economicamente comemora a data de sua independência. Diferentemente, do processo de libertação ocorrido nas demais nações americanas, nossa emancipação política foi conseguida com um simples grito, proferido por um príncipe indignado, às margens do riacho Ipiranga, então serpenteando a pequena São Paulo, naquele Sete de Setembro de 1822. Foi assim, no grito, que conseguimos nossa independência, sem luta, sem a coragem de autênticos líderes e sem a participação do povo.

A maioria dos brasileiros enxerga o Sete de Setembro pelas cores românticas da grande e monumental tela de Pedro Américo, pintada longe, muito longe do riacho e do Brasil, em Florença, onde o pintor gozava as delícias da vida artística da cidade do renascimento italiano. Foi lá, nos salões com obras de Michelângelo e de tantos artistas, que Pedro Américo deu asas à imaginação para pintar a bela e retumbante cena, mas plena de fantasia e distante da realidade. Afinal, arte é beleza, é sonho irreal.

Na colossal tela, está retratada uma numerosa comitiva de gente elegante e bem vestida. Os civis trajando roupas da melhor qualidade, alguns envergando até sofisticadas casacas. Os militares retratados em suas fardas de gala, daquelas usadas nos luxuosos salões de bailes dos palácios de Viena, ostentando capacetes com imponentes penachos. Em meio aos dois grupos, Dom Pedro, espada para os céus a proferir o lendário grito. Todos montados em autênticos puros-sangues, desses de disputar corridas nos melhores hipódromos. Gente do povo, apenas um negro-lacaio, em frente a um carro de bois a olhar atônito para os personagens-genitores da nova nação.

A história, no entanto, pinta o fato com outras tintas e cores. A comitiva não passaria de uma dúzia de pessoas. Tinham cavalgado por picadas, subido a íngreme Serra do Mar para acompanhar o príncipe regente, numa cansativa e suarenta cavalgada em lombo de mula. Assim, os personagens não poderiam estar vestindo as elegantes e limpas roupas retratadas na tela.

Dom Pedro e sua comitiva não estavam viajando a serviço do Império, não tinham ido à guerra, muito menos derrotado qualquer inimigo da nação brasileira. A verdade é que o príncipe estava voltando de Santos, onde estivera para atender ao chamado de sua amante preferida e viver mais uma de suas muitas principescas aventuras extraconjugais.
Se o Brasil tem uma história de permanente crise ética e se, ainda, não construímos uma sociedade de bem-estar social é porque esta nação começou muito mal, sem glória, sem verdadeiros heróis, pelas mãos de um irresponsável príncipe de muitas alcovas e pouco trabalho.

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