Memorial Ítalo-Guabirubense: Sacristão Francesco Celva – Parte I
Pe. Eder Claudio Celva, precursor e idealizador do Memorial Ítalo-Guabirubense Sacristão Francesco Celva, conta que, ainda muito jovem, talvez mesmo criança, gostava de saber da história da sua localidade. O tempo passou, a pesquisa foi avançando e, de pouco a pouco ir pedindo, ia recebendo objetos antigos em Lageado Alto.
Primeiramente, apenas de sua própria família. E depois passando de casa em casa para esmolar velharias, o que não se revelou tão produtivo, pois os objetos já eram poucos e porque muitos não haviam compreendido bem a finalidade do museu eclesiástico de Lageado. Já se havia dado cabo a muita coisa por venda ou por desprezo. Várias peças tiveram que ser pagas, inclusive.
Naquele tempo, parecia desnecessário, ou sem finalidade tal trabalho que o Pe. Eder realizou. Parecia tarde demais, quando este trabalho deveria ter sido feito na década de 1970 ou 1980, quando a comunidade ainda não estava esfacelada pelo êxodo, e ainda viviam muitos nascidos no século XIX, estes que estavam ligados diretamente aos imigrantes da primeira hora. Pe. Eder conta que tinha a sensação de recolher só coisas sem graça, que sendo tão poucas, todos conheciam, e não tinham dotação de atração por raridade, dando ao local um aparente depósito de velharias sem valor. Mas com o espírito tentado, ele não desanimou. Os quase dois meses anuais de folga do Seminário eram gastos pelo Pe. Eder neste trabalho escondido e exigente.
Hoje Pe. Eder constata que a maior parte das casas ou ranchos de onde ele obteve as peças que agora estão expostas no Memorial Ítalo-Guabirubense Sacristão Francesco Celva, quase nenhuma mais se encontra de pé e praticamente não há mais uma única casa antiga na localidade. Se este trabalho fosse realizado hoje, pouco ou mesmo nada mais se encontraria, nem mesmo daquilo que lhe parecia tão sem importância naquele tempo, pois eram coisas que ele mesmo conhecia à exaustão.
Agora o Pe. Eder constata que em tão pouco tempo o muito que ainda ficou na casa das pessoas, simplesmente desapareceu. É um filho ou neto da cidade que leva a antiguidade, é a transmissão para outras mãos por algumas notas de reais, ou por abandono e degradação.
Em 13 de junho de 2008 um novo ânimo com o surgimento de um livro sobre os imigrantes italianos em Lageado Alto. Esta ocasião levou Pe. Eder Claudio Celva a um segundo passo: o de ter um lugar para guardar e dispor aquilo que havia restado e havia sido recolhido por ele durante os anos de pesquisas e buscas. De início, ele pensou em alocar o memorial na escola do bairro. Estranhamente, algum tempo após, a Escola Isolada Santo Antônio foi demolida pela prefeitura municipal.
Durante as férias, quando retornou do Seminário, dedicou-se a iniciar a custosa obra para ter um lugar para guardar e dispor aquilo que havia sido recolhido por ele durante os anos de pesquisas e buscas. Grandes foram as dificuldades que se antepunham. A pequena biblioteca era enriquecida ao sabor do interesse pessoal. Mas era necessário ter um local específico para reunir todo o material.
Com a ajuda do pai, Eder Claudio Celva ergueu anexo a sua residência um Pré-Memorial, armazenando as peças, cujo acervo existente reunia peças de vários gêneros e épocas dos imigrantes trentinos em Guabiruba. Até aqui era um museu pessoal.
A ideia já era transmitir para a comunidade o museu. Pe. Eder convocou alguns amigos para colaborarem com a construção do prédio que atualmente abriga o acervo, constituído inicialmente só com peças de sua própria família recolhidos em Lageado Alto, e até hoje as peças, em sua maioria, são frutos da herança dos seus antepassados. Assim, em 2009, temos a fundação do Memorial Ítalo-Guabirubense Sacristão Francesco Celva.