Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Em tempos de eleição: quem vai ao ar perde o lugar

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Em tempos de eleição: quem vai ao ar perde o lugar

Rosemari Glatz

Estamos na eminência de mais uma eleição municipal. Domingo, 15, vamos definir, pelo voto popular, quem vai governar o município em nosso nome (prefeito) e quem vai legislar no meu e no seu nome (vereadores). Em 2020, a campanha eleitoral foi muito diferente de qualquer outra eleição que já vivemos. Alguns candidatos conseguiram lidar melhor com os desafios impostos pelas restrições em função da pandemia, e outros repetiram o mesmo modelo adotado por dezenas de anos na política, confiantes de que a velha política se basta. Vamos ver o que as urnas nos dizem em relação às nossas escolhas.

Ao observar toda essa movimentação política, com centenas de candidatos a vereador e vários candidatos a prefeito, talvez alguns de nós tenham constatado que, para determinados candidatos, trata-se de apenas mais uma oportunidade de fazer marketing político e fortalecer o seu nome para uma próxima candidatura ou, ainda pior, para manter a cabeça do eleitor ocupada e dificultar a formação de novas lideranças.

Neste sentido, resgato um antigo jogo infantil denominado: “quem vai ao ar perde o lugar”. Uma brincadeira que já foi popular, um divertimento colegial. Repassado pela tradição oral, foi brincado por muitos de nós na infância e funciona mais ou menos assim: as pessoas que participarem da brincadeira formam um círculo, juntas umas das outras, ombro a ombro. Do lado de fora fica uma criança, girando em torno da roda. Depois de ter dado algumas voltas, toca de leve no ombro de um dos companheiros e diz: – Quem vai ao ar perde o lugar!… E depois corre rápido, na mesma direção em que estava caminhando. A outra criança também corre, mas em sentido oposto. Se a criança que se achava fora do círculo conseguir alcançar o lugar deixado pela criança que foi abatida, será por essa substituída. Do contrário, terá de tocar no ombro de outra, continuando a brincadeira.

Quando crescemos, aprendemos que aquela brincadeira infantil tem outra versão no “mundo dos adultos”, onde a estratégia do jogo é um pouco mais elaborada do que o divertimento colegial. No dito popular, ela se traduz em um provérbio de amplitude universal que diz: “quem foi ao vento, perdeu o assento”. Esse ditado popular indica que, quem sai fora, isto é, ao vento, perde o lugar onde estava. E o que isso tem a ver com política?

Você já observou que políticos profissionais – mesmo quando impedidos de atuar na vida pública costumam estar por perto, atuando direta ou indiretamente? Eles sabem que “quem vai ao ar, perde o lugar”. E conjugam esse dito popular com outro que diz que: “não há espaços vazios”. Então, para que ninguém ocupe o seu espaço, ficam por ai… E, sempre que há oportunidade, inserem na estratégia um terceiro provérbio que diz: “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”.

Fora do período eleitoral, políticos profissionais continuam vendendo a sua imagem, porém de forma mais discreta. Fazem marketing político objetivando criar uma imagem para futuras eleições, conquistar apoio popular e consolidar o seu nome (a sua marca).

Aparecer em mídias sociais, ter seu nome mencionado em jornais, ser tema das conversas de bar e no cafezinho é uma forma de marketing bastante almejada, pois representa mídia espontânea. E, pela combinação das metáforas “quem foi ao vento, perdeu o assento”, “não há espaços vazios” e “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”, cuidam de estar vivos no consciente coletivo do possível eleitorado. E, assim como se diz que criança que brinca não pensa besteira, cuidam de manter a cabeça do eleitor ocupada… Afinal, também é uma forma de garantir que uma nova liderança política não se crie por ali.

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