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Revendedores de Brusque divergem sobre nova política de preços do gás de cozinha

Medida foi anunciada em janeiro pela Petrobras, sob alegação de estabilidade de custos

A redução de 5% no preço do botijão de 13 quilos de gás de cozinha (GLP), anunciado para as distribuidoras em janeiro, não deve ter reflexo imediato no bolso dos consumidores. A medida, aliada à nova política de formulação de preços, é vista como uma forma de estabilizar o preço, que aumentou no ano passado.

Desde o fim do ano, o governo federal tenta dar mais estabilidade ao preço do GLP para as revendas e consumidores. A primeira medida, ainda em 2017, foi o estabelecimento de uma revisão mensal de preços na refinaria.

Os reajustes do produto sofrem influência direta do mercado internacional e as mudanças ocorriam os meses. Em janeiro, houve nova alteração. Desta vez, os distribuidores passaram a ter os valores revistos a cada trimestre, com o próximo reajuste esperado para 5 de abril.

A medida gerou 5% de redução dos preços para os intermediadores, segundo a Petrobras, porém não animou o Sindicato dos Revendedores de Gás de Santa Catarina (Sinregás). De acordo com o presidente executivo, Jorge de Oliveira, o momento para o mercado é de incerteza e nenhuma distribuidora repassou a queda para os revendedores do estado. Só entre junho e dezembro, estima, houve um aumento de 84% no preço na refinaria e boa parte do valor não foi repassado ao mercado.

Para ele, a alteração da política de preços veio em um momento errado. Com a passagem dos meses mais quentes, o setor esperava um aumento de 30% no consumo do GLP, mesmo período que os custos caem, por influência do início do verão no continente europeu. “Nunca se teve tanta revenda de gás. Nocautearam a margem dos revendedores”.

Influência política
Oliveira critica o debate sobre a criação de um subsídio para compra de gás de cozinha depois de um ano com tantos aumentos. Em junho, o preço médio para o consumidor final do botijão de 13 quilos no estado era próximo aos R$ 50,  segundo levantamento do Sinregás. No fim do ano, os valores oscilavam entre R$ 65 e 68 em Brusque. O cenário, segundo o presidente, incentiva a clandestinidade e precariza o setor.

A proposta visaria as populações consideradas de baixa renda e vem sendo cogitada pelo presidente Michel Temer. Ele chegou a debater o assunto com o ministro da Fazenda, Henrique Meireles, no fim de janeiro. Para Oliveira, o anúncio de redução nas refinarias e mudanças estão tendo interferência do ano eleitoral e seria preciso o estabelecimento de parâmetros mais claros para o ramo. “Houve um aumento exorbitante. Nem distribuidores, nem revendedores conseguiram repassar isso em uma economia estagnada”.

Mudança de planejamento
Nos últimos 28 anos, Vanildo Schmitz trabalha com gás de cozinha e não lembra de um momento de queda de custos e preço do produto. No período, passou de funcionário de revendas para um negócio próprio, que leva seu sobrenome, no bairro Águas Claras. “Se como revendedores não recebemos esta redução de preços, não temos como baixar. Ninguém recebeu, aí ficamos nós brigando abaixo da margem de lucro”.

De acordo com ele, com a sequência de reajustes e o panorama econômico, empresas do setor não conseguiram diluir todos os custos do ano passado. Só com a operação mensal de um caminhão de entrega e a equipe necessária, são estimados R$ 7 mil. Com isso, Schmitz mantém ao menos três caminhonetes paradas e precisou reduzir gastos com pessoal.

Para ele, as mudanças anunciadas em janeiro devem ser positivas e, ao menos, trazem a possibilidade de um planejamento para as empresas. Assim como Schmitz, a gerente financeira da Alô Gás, Thuane Carneiro, acredita que o ganho de tempo deve facilitar a adaptação ao cenário com custos mais altos e margens menores.

Apesar da redução de preços para as distribuidoras, ela não acredita na diminuição dos valores praticados pelas revendas. O motivo são as variações que ainda podem interferir no reajuste anual, habitualmente em setembro. Em ambas as empresas, os valores para o cliente final varia próximo aos R$ 70 para a entrega de botijões de 13 quilos. Compras retiradas no pátio, em média, custam R$ 65.

Composição do preço
Em seu site oficial, a Petrobras descreve a composição do preço médio do gás residencial. Do valor pago pelo botijão de 13 quilos, 45% é vinculado ao custos de distribuidoras e revendedoras. A própria companhia é responsável por outros 36% do total. PIS/Pasep e Cofins respondem por 16% e 3%, respectivamente.

Pela nova política de preços, a primeira revisão de preços deve levar em conta os valores praticados nos últimos seis meses. O reajuste é previsto para 5 de abril. No terceiro trimestre, com data base de 5 de julho, serão levados em conta os últimos nove meses. A partir dos últimos três meses do ano, a Petrobras vai tomar como referência os 12 meses anteriores.