Profissionais da saúde falam sobre desafios de lidar com Covid-19 e fazem apelo à população
Eles relatam rotina estressante por conviver diariamente com o vírus
Eles relatam rotina estressante por conviver diariamente com o vírus
Cansaço e estresse. Dois sentimentos que são preponderantes nas vidas de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e demais profissionais que trabalham com pacientes com Covid-19 em Brusque e em todo o mundo há quase 10 meses.
Chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Azambuja, Eugênio José Paiva Maciel conta que a Covid-19 fez tudo mudar. Um inimigo desconhecido, que causa complicações em todo o corpo e que, até hoje, não tem um tratamento comprovado para curá-lo.
“Tivemos que contratar colegas, aumentar a UTI. Não tenho previsão de quando isso vai acabar. Quando a gente está se acalmando, ela vem pior. Todos nós, de uma maneira geral, somos responsáveis. É uma doença horrível, nos pega de toda maneira, cardíaca, pulmonar, renal e leva a óbito. A gente se cansou da Covid, mas ela não se cansou da gente”, ressalta.
Eugênio destaca que o que mais preocupa no momento é o relaxamento das medidas de segurança da população em geral. Apesar do aumento dos casos, o sentimento é que muita gente perdeu o medo da doença.
“A Covid não é só um problema médico, social, é nosso. O que me apavora é que parece que as pessoas abandonaram o alerta. Temos que entender que, se cada um fizer sua parte, vai melhorar. Estamos vendo muita festa, muito oba-oba, as pessoas não estão se protegendo”.
Diretora geral da Saúde de Brusque, Camila Pereira, que atua no Centro de Triagem, acredita que os profissionais estão mais preparados para esta “segunda onda” da doença em Brusque.
Ela destaca que, no início, o coronavírus era ainda muito desconhecido e, por isso, os protocolos dos profissionais de saúde ainda eram muito incertos. Agora, ela acredita que o manejo está mais adequado.
“A pandemia não veio com manual. A primeira vez foi muito repentino, os testes que a gente fazia já evoluíram. Mas é claro, enquanto não tivermos a vacina, não vai mudar este cenário e vamos ter a terceira, quarta e quinta ondas”.
Apesar disso, ela destaca que a lotação hospitalar está maior neste segundo momento de avanço da doença. No Centro de Triagem, por exemplo, a quantidade de médicos teve que ser triplicada para atender a demanda.
Médico que atua no Centro de Triagem em Brusque, João Techy conta que o maior problema atual não é a falta de equipe médica, mas a rotina de lidar com pessoas que estão confirmadas com a doença. A iminência de estar contaminado por estar rodeado de pacientes com o vírus.
“É cansativo, estressante, porque a gente está lidando diretamente com o doente, com casos confirmados e estamos sempre correndo risco da contaminação. Então a gente sempre fica em uma certa tensão, porque temos que dar conta da demanda”, explica.
Eugênio diz que, além do risco iminente dos profissionais se contaminarem, o desgaste psicológico é uma situação muito difícil para as equipes que trabalham diretamente com pacientes de Covid-19 lidarem.
“Os médicos estão cansados, estão adoecendo. Enfermeiros estão adoecendo. Você está lidando com morte, com gente conhecida. Morreu um colega nosso há pouco tempo. A gente tem que se adaptar e conviver com esse inimigo, que é poderoso. Enquanto não vier a vacina, precisamos nos cuidar e cuidar do próximo”.
Apesar da aflição com a possibilidade de se contaminar, Eugênio afirma que sua maior preocupação é ter que deixar o hospital para se tratar da doença. Ele conta que, para manter seu bem-estar, tenta se desconectar quando está fora do horário de trabalho.
“A gente está muito unido, mas estamos cansados e estressados. As pessoas não entendem que não é só Covid, vem tudo para cá. O nosso dia a dia de loucura continua. Eu sou um pouco louco, moro em sítio, gosto de andar no mato, agora estou andando de jeep, me conecto com a natureza, ouço música. Tenho válvulas de escape”.
As medidas de restrição relacionadas à Covid-19 estão cada vez diminuindo e Eugênio se preocupa com o reflexo que isso está tendo na sociedade.
“Se pudesse fazer um alerta geral, é de que cada um faça sua parte. Está se criando uma rejeição da máscara, usando no pescoço. A vacina não vai chegar de uma hora para outra”.
Camila acredita que falta conscientização das pessoas. Ela diz que ações coletivas são importantes, mas que falta a ação da comunidade no sentido de aderir às medidas de segurança recomendadas por governos e autoridades de saúde.
A diretora geral de Saúde se preocupa que as pessoas não procurem o Centro de Triagem durante as festas de fim de ano e acabem indo atrás de atendimento médico quando já estão desenvolvendo sintomas mais graves.
“Nessa época, é muito difícil pedir para que os familiares não se reúnam, e aí começam as contaminações tudo de novo. O que a gente se preocupa agora é que as pessoas não querem procurar o serviço para não ficarem isoladas e tememos uma chegada tardia dos pacientes nas primeiras semanas de janeiro, o que vai acarretar em internação hospitalar, o que é muito pior”.
Eugênio apela para que as pessoas tenham bom senso para lidar com pandemia. Ele afirma que os medicamentos que surgiram até agora, como cloroquina, ivermectina e tratamento com vitaminas ainda não se mostraram 100% confiáveis e que, principalmente agora no período de fim de ano, continuem tomando os cuidados necessários.
“Entendo que está todo mundo cansado, obesidade está aumentando, consumo de bebida alcoólica também. Mas estamos em uma guerra e o inimigo está vencendo. A arma que temos é não se contaminar. Está morrendo muita gente, mais de 180 mil só no Brasil. Temos que se cuidar, usar a máscara, ter hábitos saudáveis. Não tem outra saída”.