Professor de Malala
A menina paquistanesa Malala Yousafsai não ganhou o Prêmio
Nobel da Paz de 2013, como era a expectativa de muita gente, inclusive a minha.
Malala ficou conhecida no ano passado por ser vítima de um atentado, dada a sua
defesa do direito de educação para as meninas do Paquistão. Mas com ou sem o prêmio,
Malala é uma grande inspiração para se comemorar o Dia do Professor.
Como disse um dileto amigo, uma educação de qualidade requer duas coisas: a) um professor
capaz; b) alunos com vontade de aprender. Não desprezo a importância da
estrutura física e de todo o suporte que pode e deve existir para além dos dois
itens fundamentais. Sem eles, porém, o suporte suportará o vazio.
Malala
representa esse segundo item, que é o desejo de todo bom professor: alunos com
vontade de aprender. Grande parte da energia dos professores é gasta não com o
que lhe é específico, ou seja, ensinar, mas em lidar com um número crescente de
alunos sem desejo nenhum pela educação, que são encurralados pelo sistema nas
salas de aula. Nesse processo, mesmo os bons professores se desgastam,
desanimam, nivelam por baixo o seu trabalho, em detrimento dos alunos
interessados e desejosos pelo saber (sim, eles existem!).
Agradeço
a Deus pelos ótimos alunos que sempre me aparecem – alguns bem mais inteligentes
e estudiosos que eu, – que sempre me instigam a rever coisas que eu imaginava
dominar, reler autores que eu pensava conhecer ou atentar para assuntos que
desconhecia completamente. Assim, me sinto um professor em contínuo aprendizado
e sinto que meu trabalho tem algum sentido, pois não cai de todo no vácuo.
Revendo
como funcionavam as escolas da Idade Média ou as aldeias jesuíticas do século
XVIII, percebo o quanto se pode evoluir com a educação, mesmo com meios tão
precários. De fato, com professores capazes, alunos interessados, um caderno
rudimentar e um lápis mal apontado se pode ir muito longe. Por outro lado, com todo
o gasto (gasto não significa, necessariamente, investimento) em educação, o
Brasil ocupa uma vergonhosa posição no ranking mundial, atrás de Belize,
Bolívia, Paraguai e até da Palestina.
A
estrutura física e a tecnologia que estão a serviço do aprendizado precisam se
impregnar do espírito de Malala
Yousafsai e de tantos bons alunos e bons professores que povoam nosso sistema
educacional. Que o Dia do Professor reaviva em nós esse espírito. O bom
professor sempre encontrará uma alma acolhedora, na qual a semente poderá
frutificar. A colheita não depende de nós.