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Por que tanta cebola importada?

A presença desse bulbo na gastronomia, na preparação diária dos alimentos é de suma importância e relevância, considerando aspectos como textura, sabor, aroma e ainda implicações nutricionais. Sabe-se que no quesito saúde, substâncias marcantes da cebola atuam em nosso corpo como anti-inflamatórios e antioxidantes.

A cebola é cultivada em todas as regiões do Brasil, menos no Norte. Porém os estados que se destacam são: Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Apesar de se adaptar tão bem em nosso solo a cebola não é endêmica do Brasil, ou seja, é originária da Ásia, mas ela já está por aqui em nossas terras faz muito tempo, foi trazida pelos primeiros colonizadores portugueses.

Santa Catarina é o maior produtor nacional de cebola, cerca de um terço da produção total do país. A cebola catarinense tem diversidade de tamanho, cor da casca e sabor, segundo especialistas. A maior parte das mudas da cebola crioula, uma variedade catarinense melhorada pela Epagri, são plantadas em um processo totalmente manual, e os bulbos se formam envoltos em uma fina casca marrom, da cor de pinhão, conhecidos pelo sabor picante. Desde 1984, técnicos da Epagri já desenvolveram oito variedades de cebola, sendo as mais comercializadas a crioula e a bola precoce, sendo essa de sabor mais suave.

Mas que bafafá é esse que está ganhando as manchetes diárias? Está sobrando cebola nacional, por conta de uma quantidade excessiva de importação desse produto? Nossa cebola sendo substituída por outras gringas? Cebolas Holandesas? Como assim?

Ao pesquisar identifiquei que aqui em nosso país, durante a “entressafra”, com frequência importamos cebolas para abastecer a falta delas nas prateleiras. No entanto, em 2015, por conta do fenômeno el niño, houve uma “quebra na safra” desse vegetal, pois, segundo a Epagri, 90% do sucesso da produção está condicionado ao clima. Naquele ano, “por necessidade”, foi realizada a importação desse alimento em maior quantidade da Holanda, pois nossa vizinha Argentina, exportadora do produto, também foi atingida pelo fenômeno climático. Mas e nesse ano de 2017, por que está havendo tanta importação? Já que contamos com uma “super safra” em que a produção de cebola bateu recorde de colheita, por que então manter a importação da cebola em quantidades tão abundantes?

Analisando o site da “Associação da cebola da Holanda” percebe-se que eles se promovem de forma clara e objetiva, afirmam que em termos de exportação global de cebola de alta qualidade eles são líderes e mantém uma fatia do mercado mundial de 15%. Além disso, consideram-se eficientes e dispõem de tecnologia avançada. Também demonstram estar organizados e trabalhando de forma coletiva. Afirmam ainda, que exportam para 120 países. Mas será que o Brasil “precisa” importar esse alimento?

Tudo leva a crer que o motivo de manter a compra no exterior, mesmo sem necessidade de abastecimento, está relacionado ao “preço” do alimento. Segundo Luiz Carlos Laurentino, presidente da Associação de Produtores de Cebola de Santa Catarina (Aprocesc), “nós temos uma concorrência com a Holanda, que é um lugar que não paga imposto, que o governo subsidia a agricultura, não tem como competir. Precisamos que os nossos políticos façam alguma coisa nesse sentido“.

E como nós nos posicionamos perante esse impasse? Quando estamos diante da banca de vegetais da feira ou do supermercado sabemos a procedência do que estamos comprando? Conseguimos colocar em prática nosso discurso de promover a agricultura familiar, de promover a sustentabilidade, de dar preferência aos alimentos produzidos pelas redondezas, de fortalecer a agricultura nacional? Difícil, né. Quando pegamos na mão uma cebola e não temos a mínima ideia de onde ela vem, pois essa informação não é repassada a nós, consumidores. Acabamos focando no aspecto físico e no preço, sem nos darmos conta de toda a questão social e econômica que está por trás desse vegetal.
São tempos de adequações e novas atitudes, em que devemos exigir mais informações e esclarecimentos para podermos participar efetivamente das decisões de escolha dos alimentos que chegam à nossa mesa.  Claramente o capitalismo ainda reina soberano e ele nos seduz pelo preço. Curiosamente, em uma concorrência duvidosa, a cebola que atravessou o oceano, passou por aduanas e não conhece nossos agricultores, consegue ser mais barata que a cebola, daqui de Ituporanga, cidade catarinense.

Temos hoje uma receitinha rápida e saborosa – com a cebola de Ituporanga, é claro.

Ótima opção para deixar prontinha na geladeira, para temperar salada, sanduíches, carnes, peixes ou até rechear tapiocas.

Ingredientes e modo de preparo:

Colocar em um vidro cebola roxa finamente fatiada, cobrir com azeite de oliva extra virgem de boa qualidade (de preferência de produção nacional, que já anda pelos mercados), adicionar um tom ácido – aqui foi acrescentado duas colheres de sopa de vinagre de Jerez, pode ser outro, como vinagre de framboesa, de arroz ou maçã. Acerte a quantidade de ácido de acordo com a quantidade dos ingredientes e sua preferência por acidez. Saboreie!

 

Michelle Kormann da Silva – Gastrônoma