O que nos difere de outros animais, é nossa capacidade de pensar, e segundo Hannah Arendt, filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX, estamos anulando essa capacidade quando nos deixamos levar pelos comportamentos da sociedade de massa, e demais influências. É interessante, em tempos que se faz necessário clareza política, resgatar seus pensamentos a respeito da Banalidade do Mal, quando explica que o homem que não pensa pode realizar as maiores crueldades para a humanidade, como foi o caso do Holocausto, em que acusados alegaram fazer o que faziam simplesmente por cumprir ordens, ou seja, não estavam pensando em seus atos, apenas sendo homens a cumprir regras, sem a menor capacidade de empatia.
O que chama atenção é o esquecimento da prática de democracia exercida na Antiguidade, e como o poder fixou-se nas mãos de poucos. A economia de mercado também, com sua influência, dispersa os interesses da população, e a sociedade transfere a responsabilidade de fazer políticas públicas para as mãos de poucos.
Aqui, abre-se um parênteses para explicar ou relembrar a origem da palavra política: o termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa aquilo que é público. Isso quer dizer que política diz respeito a todos nós, cidadãos, e às decisões que dizem respeito a nossas cidades, estados e país. Nosso papel não é só pagar impostos, mas fiscalizar, ter interesse nas pautas das câmeras e assembleias legislativas, e cobrar esclarecimentos sobre os destinos dos recursos públicos.
Vivemos em tempos em que há necessidade urgente de ação, precisamos assumir a responsabilidade de cuidar da política. Parecemos caminhar desacordados, iludidos, em total descrédito com os governantes. Esquecendo-se, porém, que estando numa democracia, a população é quem elege seus representantes. Mas lembro também, aqui, da reflexão de Bauman, de que fazemos escolhas diante do leque de opções que temos, e me pergunto: quais são as opções hoje? Eram essas as opções que gostaríamos de ver como nossos representantes?
Não vale cara feia, desconversar, dizer que falar de política dá briga e é melhor evitar conflitos. É preciso estudar, se aprofundar, e saber argumentar de forma inteligente nas discussões. E por que parece tão chato? Porque não estudamos isso na escola. Porque é muito melhor para o interesse de poucos uma população ignorante em pautas políticas, que se mantenha na sombra, e transfira a responsabilidade de fazer gestão pública para os eleitos, que se dizem representantes do povo. Será que eles realmente sabem o significado de interesse do povo ?
Felizmente, onde parece não haver esperança ou um estado de estagnação, há movimento. Há constatações de grupos interessados em políticas públicas, e de forma organizada, sentem-se capaz de exercer a democracia. Os meios de comunicação, a imprensa aberta, facilitam esses processos, e a pressão popular é exaltada através das mídias. Observatórios sociais, Orçamentos Participativos são alguns dos exemplos de interesse da população na prestação de contas do Governo.
Pessoas dispersas, caminhando sem um propósito em comum, dificilmente conseguirão algum resultado. Mas, o engajamento de pessoas, trabalhando para um causa em comum, podem sim ter resultados positivos. Assuma sua responsabilidade. Estude cada candidato. Veja o que ele já realizou enquanto esteve no poder. E, principalmente, não acredite em promessas que diante da situação do Brasil, jamais poderão ser cumpridas.
Clicia Helena Zimmermann – professora