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Patrimônio histórico em perigo

Por meio das páginas de O Município tomamos conhecimento de uma estranha negociação, tendo como protagonistas o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Comupa) e a rede de lojas Havan. Como é do conhecimento de todos, a Havan arrematou num leilão a massa falida da Companhia Industrial Schlösser, cujo complexo imobiliário incluía um prédio antigo localizado na confluência […]

Por meio das páginas de O Município tomamos conhecimento de uma estranha negociação, tendo como protagonistas o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Comupa) e a rede de lojas Havan.

Como é do conhecimento de todos, a Havan arrematou num leilão a massa falida da Companhia Industrial Schlösser, cujo complexo imobiliário incluía um prédio antigo localizado na confluência das avenidas Primeiro de Maio e Getúlio Vargas e que abriga neste momento a pizzaria A Italianinha.

Ao que tudo indica, o novo proprietário não encontrou nenhuma serventia para o antigo imóvel em seu projeto de renovação do complexo, decidindo-se por entrar com um pedido de demolição. Reforçou a sua solicitação com a previsão de que o sumiço do imóvel traria uma sensível melhoria ao trânsito na região.

Após tomar conhecimento do pedido de demolição protocolado pela Havan, o Conselho Municipal mudou bruscamente de opinião: o que era patrimônio cultural, de uma hora para outra, deixou de sê-lo e a demolição do imóvel foi autorizada desde que a Havan assumisse os custos da renovação do Tiro de Guerra e a Secretaria de Mobilidade Urbana atestasse que o desaparecimento do imóvel realmente desafogaria o trânsito da região.

O inacreditável e o inadmissível nesta trama reside, a meu ver, na atuação do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico que, ao que parece, esqueceu completamente a razão de ser do órgão: zelar pela preservação do patrimônio da cidade e cumprir rigorosa e fielmente o que se espera do órgão guardião de nosso patrimônio cultural.

Brusque já foi por demais dilapidada pela ganância imobiliária, tendo sido privada de suas mais preciosas joias arquitetônicas. Desta forma, não se pode admitir que o órgão encarregado da preservação, patrocine negociatas que objetivem a destruição de algo que eles mesmo classificaram como patrimônio cultural do município.

A prefeitura, por sua vez, que poderia e deveria manifestar-se sobre esta transação duvidosa, que decide sobre o ser ou não ser de um bem cultural da cidade, prefere fechar-se em copas. Provavelmente estará observando a operação com benevolência pois, se concretizada, a livraria dos custos de renovação do Tiro de Guerra de sua responsabilidade, por tratar-se de uma dependência pública.

Não resta a menor dúvida de que se a demolição acontecer, inaugurar-se-á uma nova etapa em nossa cidade, o que deverá alegrar os proprietários de imóveis considerados patrimônio cultural do município: será a era do “vamos conversar”, do “tudo é negociável” e principalmente do “tudo tem o seu preço”.

A cidade deverá se tornar ainda mais desinteressante arquitetonicamente, mais pobre e inodora, e os turistas do futuro terão dificuldade em identificar a nacionalidade daqueles que nos colonizaram.