Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Para que estudar Filosofia?

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Para que estudar Filosofia?

Pe. Adilson José Colombi

Para quem se sente chamado a ser sacerdote da Igreja Católica, não há outro caminho: é uma das exigências para ser admitido ao estudo da Teologia e ao exercício do ministério presbiteral. Mas, para os demais? Para que estudar Filosofia? O campo de trabalho é bem reduzido! Ao menos, nos dias atuais? Será que vai ficar, assim?

Tem alguém que pensa diferente e até faz palestras dizendo o contrário. Isto é, está afirmando, em conferências e cursos, que vai ser diferente: que a Filosofia será a profissão do futuro. E quem está afirmando é o escritor, historiador e filósofo Yuval Noah Harari, autor do best-seller  do livro “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, um profissional, até então sem muito valor no mercado, que um profissional, em particular, pode ganhar espaço nos próximos anos: o filósofo. Essa ideia ele a desenvolve, sobretudo, em seu novo livro, “21 lições para o século 21” (Companhia das Letras). Confesso que não as li. Apenas, li a respeito delas. Pretendo lê-las, certo?

Não é tão fácil, porém, acreditar nessa proposta para o futuro. Principalmente, se se olhar como está a tendência, hoje, do mercado de trabalho profissional. Basta olhar a lista de possíveis profissões do futuro? Elas, de modo geral, apresentam ocupações que vão servir as áreas das tecnologias e das engenharias. Sobretudo, tudo o que está relacionado com a informática, com todas as suas novidades constantes.

Todavia, segundo a reflexão de Harari, essa tendência vai mudar justamente por causa da inteligência artificial. Área que vai ser investido bilhões, nos próximos anos. É justamente, nesta área, segundo ele, que será imprescindível a presença do filósofo. As máquinas, hoje, só conseguem operar com algoritmos, fundados e programados com sistemas lógicos que valem para todos os momentos, desde que tenham as condições adequadas para suas operações. Mas, com o advento da inteligência artificial futura, as máquinas inteligentes terão que lidar com “dilemas morais”.

Principalmente, quando tem que fazer escolhas, tomar decisões rápidas, por exemplo, um veículo sem um motorista humano ao volante. Aí, o discurso e programação têm que ser muito diferente, porque tem que ter um componente ético, portanto, valores. Isto significa que a máquina inteligente tem que tomar decisões, fazer escolhas diante de situações particulares, não genéricas. Escolhas, opções, decisões em circunstâncias reais e muitas vezes individuais, com consequências trágicas.

Sem dúvidas, essas considerações são interessantes, são otimistas com o avanço da inteligência humana e também da inteligência artificial. Pessoalmente, porém, penso que a procura por filósofos, ao menos aqui no Brasil, vai demorar um pouco mais do que outros ambientes culturais. Aqui, nós temos um quatro cultural que vem, desde o tempo da Reforma de Pombal (1759), em nossa educação, que praticamente alijou da escola a Filosofia. Tudo acrescido, pouco depois, pela presença marcante da ideologia iluminista/positivista, sobretudo, a partir da Proclamação da República em 1891.

As máquinas são capazes de trabalhar com infinitos algoritmos, algumas mais inteligentes conseguem apresentar soluções, preverem problemas e até acharem respostas. Tudo, porém, sempre num campo das ilações lógicas. O problema aparece em sua, crueza e agudez, quanto está diante de dilemas morais e éticos. Aí, não cabe só a lógica, por mais sofisticada que seja. Ultrapassam a base em um sistema pré-programado. Exigem decisões rápidas que têm que ser consideradas caso a caso, conforme situações e circunstâncias específicas e pontuais. Estamos, portanto, diante de acontecimentos que envolvem o dinamismo da existência humana concreta que escapa ao abraço puro e simples de um sistema lógico de algoritmos das máquinas inteligentes.

Todavia, não custa se preparar para “esse amanhã” de máquinas sempre mais inteligentes. É possível que não seja uma barreira inteiramente intransponível. A Filosofia sempre será útil na vida de qualquer ser humano.

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