Seja samaritano nesta Quaresma
Terminado o carnaval, com a Quarta Feira de Cinzas, tem início a Quaresma, segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica. É um tempo forte em preparação à Páscoa, a festa maior da fé cristã. Como acontece com toda e qualquer festividade, é necessária uma esmerada preparação. A Quaresma é essa preparação, que consiste, sobretudo, em um tempo de conversão. Isto é, um tempo para mudar algo em nossa vida, para que ela seja mais de acordo com a Proposta da Vida Nova do Reino de Deus.
Aqui, no Brasil, justamente nesse tempo quaresmal, para auxiliar nessa renovação de vida, acontece a Campanha da Fraternidade (CF). Ela sempre chama a atenção para uma problemática pessoal e social que pode ser renovada, transformada, a fim de criar um ambiente sociocultural sempre mais solidário, fraterno. Para ajudar, a Igreja prepara com antecedência um farto material para subsidiar todas as atividades pastorais e celebrativas da Quaresma. Um tema e um lema sempre servem de ponto de referência para todos os trabalhos e iniciativas. Nesse ano, a CF refletirá e trabalhará o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).
Como logo se percebe a inspiração da CF2020 e o modelo motivador é o Bom
Samaritano, apresentado por Cristo em uma de suas parábolas. Por isso seria muito oportuno ler e reler a parábola na sua íntegra no Evangelho de Lucas, no seu capítulo 10, 25-37. Jesus acentua três verbos fundamentais no relacionamento com os semelhantes: ver, sentir compaixão e cuidar.
Ver: saber parar, tomar distância da realidade para captá-la na sua pureza, na sua manifestação como ela é. Portanto, sem falseá-la, acolhê-la na sua identidade própria, sem subterfúgios, inclusive na sua crueza, beleza ou fealdade. Não passar ao largo, pior ainda ignorar ou tapar os olhos para não ver. Fazer-se cego propositadamente para fugir da responsabilidade e de compromissos. Ver é posicionar-se. É comprometer-se.
Sentir compaixão: na visão do Cristo e da fé cristã nada tem a ver com o sentir “pena” ou “dó”. Mas, é a atitude prática de quem se aproxima (encurta distância física e sociocultural), não se contém diante da dor, do sofrimento, do necessitado (a), sem preconceito, sem julgamento e se põe a serviço porque a vida faz seu apelo próprio que muitas vezes não há possibilidade de adiar a resposta. É “sentir na própria pele” a dor ou sofrimento de quem está em uma situação de dor ou de sofrimento.
Cuidar: hoje, quase tudo necessita de um cuidado permanente, desde Nossa Casa Comum, na feliz e sugestiva expressão do Papa Francisco para o nosso Planeta Terra, a vida em todas as suas manifestações, a família, a saúde, a Cultura, etc., etc. Tudo está exigindo cuidados porque o espírito individualista e relativista impregnou tanto nosso estilo de vida que nos tornou opacos e cegos ao cuidado com o outro, sobretudo, o necessitado.
Creio que a vida e a figura da Santa Dulce dos Pobres, canonizado no ano passado, pode e deve ser não só lembrada, mas, principalmente, conhecida e possivelmente seguida, se não em tudo, ao menos em alguns aspectos de sua vida. Com certeza, o conhecimento e a apreciação de seu exemplo de vida, motivará cada um de nós a sair, um pouco mais, do comodismo e se colocar numa atitude de dom e de compromisso. Fazer-se samaritano.