Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Bipolaridade sociocultural

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Bipolaridade sociocultural

Pe. Adilson José Colombi

A Modernidade com sua exaltação ao indivíduo e de sua capacidade racional, capaz de resolver seus próprios problemas, criou um estilo de vida sociocultural que está presente, hoje, em nossa Sociedade e Cultura pós-modernas. Em outras palavras, afirma-se que o ser humano basta-se a si mesmo, seja individualmente ou coletivamente, dispensando, portanto, qualquer intervenção divina ou auxílio sobrenatural.

Em não havendo mais verdades absolutas ou valores decorrentes delas, não há mais parâmetros éticos ou morais definidos. Tudo é regido pelo subjetivismo e pelo relativismo. O ser humano assume, de fato, a missão de ser “medida de todas as coisas”. Ambiente propício para o surgimento de radicalismos e fanatismos de todos os matizes.

Entre as muitas consequências desse processo cultural que transformou a noção de ser humano e de sua relação com o outro e também sua atuação no mundo natural e sociocultural, saliento aquelas que, a meu ver, estão bastante presentes, atuantes e que causam sérios problemas para a vivência sociocultural, sobretudo, a vida democrática. Estou falando da intolerância e do ódio que se expressam em quase todos os segmentos da vida sociocultural mundial e, principalmente, entre nós, brasileiros (as).

Como não há mais pontos de referência para o pensar e agir humanos, que apontam para os limites possíveis, cada um assume sua verdade individual e a absolutiza. Esta torna-se instrumento para o confronto com outros que também têm sua “verdade”. Então, está construído o ambiente propício para o surgimento da intolerância e o ódio. Duas posições que não somam em nada para uma sadia convivência social e cultural, pelo contrário, comprometem a saúde do tecido sociocultural e alimentam o radicalismo e o fanatismo. Certamente, nada contribuem para o favorecimento de um ambiente democrático e construtivo do bem comum.

Não há como ou porque ser tolerante para com o (a) intolerante e para com o (a) que respira e expele ódio em tudo o que diz ou faz. Isto é mais percebido, com mais nitidez, nos posicionamentos políticos e nas expressões e manifestações artísticas. Tais atitudes, de fato, nada contribuem para o enriquecimento cultural, para vivência democrática e, sobretudo, no favorecimento da riqueza da multiculturalidade.

Não é possível modificar esse comportamento intolerante e raivoso, sem uma autêntica educação para o respeito mútuo, incluso o modo de pensar, de falar e de agir. Isso equivale dizer, aceitar as diferenças. Esse aceitar essas diferenças não se está afirmando que devo concordar, aprovar tudo o que o outro diz, fala ou faz. Trata-se de escutar, ponderar, com respeito e honestidade, embora posso e até, às vezes, externar minha posição contrária ou diferente da exposta. Não se propõe um duelo, onde um tem que necessariamente vencer, até liquidando o combatente, mas, em clima de respeito, dialogar com argumentos que tenham consistência e fundamentação plausíveis. Essa educação tem que começar em casa, na família, e, depois, ser corroborada pela escola.

É evidente que esse modo de viver ou conviver em sociedade só é possível entre pessoas adultas afetiva, psicológica, social, racional e espiritualmente. Com pessoas que não cresceram em todas as suas dimensões de sua vida, apenas fisicamente, não é possível um comportamento dialógico. Na maioria das vezes, é melhor se abster de entabular qualquer diálogo, porque com ignorantes, fanáticos e radicais não há espaço para um autêntico diálogo que possa enriquecer os envolvidos nele.

Pessoalmente, creio que é mais sensato silenciar e seguir seu rumo, evitando rixas que não levam a nada ou pior criam um ambiente tenso e destruidor de ambientes. Aliás, alimentam a bipolaridade sociocultural tão nefasta para a Cultura e a Sociedade. Sobretudo, para a democracia.

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