O fetiche pela tortura
Por Ricardo Vianna Hoffmann / Advogado e Professor
Por Ricardo Vianna Hoffmann / Advogado e Professor
Os que querem estar no novo “Comando da Revolução” estão verbalizando no escuro. No porão, querem guerras, falam em nome do “povo”. Sim, o povo deles. Com eles, os bem de vida e não os miseráveis, os pobres. Eles, do “Comando da Revolução” discursam e discursam…
Hipócritas, afirmam que querem os militares ao lado do povo. Povo deles. E eles, os bacanas, chegam a pronunciar com salivas no canto da boca: “guerra”, “nossos filhos vão pegar em armas”. Bem típico daquele alienado que não lê, que se faz de bonzinho. Mas, no fundo, apenas usa o diálogo como via de mão única para o ódio que alimenta sua própria frustração.
Eles, tolos, não sabem, nunca ouviram a observação de Heródoto: “Ninguém será tão tolo que prefira a guerra à paz: na paz os filhos enterram os pais, enquanto na guerra os pais enterram os filhos”.
Frouxos e sem coragem de agir em defesa de um mundo melhor sem ódio, sem armas, verbalizam que o “exército deve agir pelo povo”. Pelo povo deles, “os bem nascidos”.
Eles não querem construir pontes (porque construir dá trabalho), querem o mais fácil, o caminho mais curto, pois para eles o ideal seria MATAR e DEVORAR. Eles ficariam olhando a tudo isso em masturbação fetichista da violência, onde a derrota do “outro” representa o próprio gozo.
Não querem o caminho longo e construtivo da educação, pois, para eles – na sua simplista visão – a educação só serve para que os criminosos possam financiar futuros profissionais para servi-los na criminalidade. Então, eles, do fundo de seus porões, no escuro – com os olhos arregalados, salivando indignado – questionam: “para que educação?”.
Não se importam com garantias fundamentais. Nem sabem o que elas são porque nunca leram a Constituição – não há tempo para leituras, diálogos ou tentativas em quem – apressadamente – acredita na violência como solução de todos os males.
Eles vociferam estar ao lado do povo – povo deles, “os corretos” – nem se importariam se a Constituição fosse substituída por atos de exceção. Eles querem eliminar os instrumentos que amparam as liberdades e garantias individuais porque morrem de medo da liberdade, pois nada assusta mais ao animal preso do que a perplexa autonomia daquele que se emancipa da coleira.
Eles querem cassações, prisões, a imprensa amordaçada, censurada, e para seus deleites tortura, muita tortura. Chegam a enviar e-mails do “Comando da Revolução”, pedindo que se criem canais de TV onde se transmitam diretamente dos castelos medievais as salas de torturas. Neste ponto, podendo assistir no conforto do lar a tortura dos diferentes, sugerirão um nome para o programa – “Valhacouto de Torturadores” – para que eles – e o povo deles, o povo puro – possam assistir ao ápice do ódio com toda a família reunida na sala.
Eles querem a destruição porque destruir é sempre mais fácil, porque nunca construíram nada, não veem os miseráveis e as misérias, desconhecem a advertência: “mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria”, de Ulysses Guimarães. Portanto, não veem ninguém – só seu povo.
Onde estarão eles agora? Na frente de um espelho, olhando-se e iniciando uma nova masturbação, dizendo em voz alta: “Não sou filósofo, mais odeio, logo existo”.
Frutos de uma educação precária, de relacionamentos de poder abusivos, de privilégios que ao mesmo tempo em que acariciam o ego perfuram os olhos, eles – os guardiões da moral, dos bons costumes, da certeza absoluta, da boca cheia de slogans – não salvarão o país porque abdicaram do próprio poder de transformação.
Afinal, quem acredita que a esperança de um espaço público mais democrático e pacífico reside nas mãos armadas de instituições terceirizadas pelo Estado que agoniza na sala de recuperação moral, já abdicou do seu próprio potencial como corpo ativo.
Não são eles que salvarão o Brasil. Mas podem ser eles que regridam a outros tempos, onde a vida era censurada e o respeito ainda era precário. Olham para nós com indignação, como se fôssemos nós – os outros – incompreensíveis por assumirmos certo fetiche pelas relações de paz.