A sensibilidade, a opinião, a vontade. O caráter, a escolha, a disposição. A razão.
A única tragédia da vida, independe.
A vida jamais será problema, enquanto a morte superar qualquer remédio.
Quando se ousou saber, “sapere aude”, esqueceu-se de ser!
O maior problema do “ser humano”, sempre foi viver uma amnésia de suas origens e raízes. Enquanto “primitivo”, o coração e o corpo o embalava em uma cantiga de ninar, cantarolada pelas mães e sustentada no braço de seus pais. Os protegia dos perigos da própria consciência. Hoje, o “ser humano”, racional e inteligível é órfão. De pais, de filhos, de si próprios.
O ser vivo, independente de espécie, não antevia a necessidade de sair de si, para ir além. Quando foi além, o que encontrou foi tudo, menos a si próprio.
Talvez ser “humano”, possa ter sido demasiado humano, por si só.
Um bando anestesiado de seu próprio sentido! Sentido de existência, pura e simplesmente. Embora a roda seja cíclica, e fases se sobreponham ou se substituam, há vestígios de uma raça “superada”. E espremendo tudo o que foi, tudo que é ou não é: nos sobra sempre a mesma característica: a de ser vivo.
O ser vivo, mitigado de pouco glamour, mas repleto de vida.
Pulsante, pulsante, pulsante…
Quando a vida superou o ser humano e não mais coube em um desejo, a razão serviu em pratos frios, os cortes mutilados de uma tentativa de compreensão e digestão daquilo que seria o mais complexo: viver. E apenas, viver. Quando algum ser humano, ultrapassa a condição de racionar a respeito da vida, ele vive. E não há bem maior.
Penso que o ser “humano” deva ser superado. Um dizer sim, ao “ser vivo”, tal como ele é. Uma alternativa à vida, as coisas simples, aos pulsos e impulsos. Sem castigos ou punições. Sem a necessidade de encobrir a existência humana, com um véu de beleza, de ilusão, para suportá-la viver.
Quando pensávamos ter entrado na era da luz, nos enganamos! Apenas estávamos caminhando em um processo digestório de nossa própria condição de vida. Aceitar-se, portanto, é prova simples e sábia, que voltamos a encontrar o nosso lugar na terra.
Não há de haver sabedoria maior, do que viver e conviver. Sem mais, sem menos. Sem encantamentos, mas em paz consigo. Com a clareza, que a vida é superior ao homem.
Méroli Habitzreuter – escritora e ativista cultural