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O calvário da Cultura

Após uma rodada de reuniões na capital federal, a nossa lépida diretora de Cultura, Zane Marcos, comunica que “no futuro, Brusque poderá ter um Museu de Arte Contemporânea”. Confesso que a nova me assustou, pois me pergunto se estamos maduros e preparados culturalmente para esta responsabilidade de abrigar um Museu de Arte Contemporânea? “O recheio […]

Após uma rodada de reuniões na capital federal, a nossa lépida diretora de Cultura, Zane Marcos, comunica que “no futuro, Brusque poderá ter um Museu de Arte Contemporânea”.

Confesso que a nova me assustou, pois me pergunto se estamos maduros e preparados culturalmente para esta responsabilidade de abrigar um Museu de Arte Contemporânea?

“O recheio já existe”, afirma a ousada titular da Cultura, referindo-se às obras da Bienal Internacional, realizada durante o primeiro mandato de Ciro Roza, obras até hoje depositadas em local inadequado.

Em verdade, ainda não vejo a nossa cidade como um centro cultural fervilhante, pronto e preparado para tal empreitada, pois enquanto escolas e faculdades se dedicam a repassar o tradicional para aprimorar o nível técnico e cultural da população,alguns poucos intelectuais, escritores, músicos e artistas plásticos brilham como estrelas solitárias num firmamento do qual a maioria não participa, sob o mote “não posso curtir o que desconheço”.

Não faz muito, fiz a oferta a uma emissora de rádio local, de produzir e  apresentar um programa semanal de música erudita, de cunho didático, com uma pitada sobre a vida do compositor e duas sobre a sua obra, tendo recebido a resposta lapidar de que “não existe audiência para este tipo de música.”

Esta  experiência me levou de volta aos meus anos de parte inegrante da diretoria da Associação Artístico Cultural de Brusque (Assac), e principalmente aos momentos de profundo constrangimento em função dos minguados gatos pingados na plateia, dispostos a curtir os nossos recitais de música clássica, fato que se repetiu em minha passagem pela Secretaria Municipal da Juventude, quando entupimos a cidade com farto leque de eventos culturais, não poucas vezes para um público numericamente sofrível. 

Honrosa exceção constituiu a vibrante palestra de Marta Suplicy sobre sexo: teatro abarrotado, ônibus de Nova Trento, e três religiosas abancadas no chão.

Pelo que se observa, eventos mais elitizados ainda não caíram no gosto do grande público que, se não acordar dessa modorra, estará colaborando para que o eventual futuro Museu de Arte Contemporânea se torne um elefante branco, sem vida, alma e visitantes, pois considero precário o prognóstico de uma autoridade, de que os turistas da FIP, atacadistas e sacoleiros poderiam ser os futuros assíduos visitantes do museu brusquense.

Vejo como missão maior de nossa secretaria municipal um agitar permanente de nossa sonolenta vida cultural, para através de exposições, recitais musicais, teatro, vernissages, shows e conferências familiarizar e conquistar os brusquenses para os prazeres da arte, do intelecto e do espírito.

Fundamental será caminhar de mãos dadas com a Secretaria da Educação para investir pesado nas escolas, pois os alunos de hoje, serão os cidadãos de amanhã, que deverão visitar o Museu de Arte Contemporânea, não por obrigação, mas por prazer.