Eliz Haacke
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Aos 26 anos e grávida do quarto filho, Teresa Moreira começou a sentir muita fraqueza, além de vomitar tudo que comia. Na época trabalhando em um hospital de Brusque, ela acreditou que se tratava dos sintomas da gravidez.
A mulher decidiu pedir demissão para dar atenção à gravidez, que ficava mais difícil a cada dia. Com a piora dos sintomas e sem conseguir comer direito, ela foi internada no hospital.
Ao receber o atendimento do médico, que analisou os olhos da paciente, recebeu o diagnóstico de hepatite. Para ter certeza, o profissional realizou exames de sangue que apontaram o tipo B do vírus.
Ela acredita que pegou a doença no breve tempo em que trabalhou em um hospital do município. Ela estava aprendendo e na época não havia os cuidados de hoje em dia. A moradora comenta que foi muito difícil diagnosticar a doença devido à semelhança com os sintomas da gravidez. “Tudo que caia no estômago, voltava. Tinha outros sintomas juntos, mas não tinha febre ou dor de cabeça. Era parecido com a dengue”, comenta.
“Fiquei só em osso”
Teresa conta que pouco antes da doença pesava 72 quilos, mas devido às complicações do vírus chegou aos 57kg enquanto estava grávida. A moradora do bairro Santa Luzia conta que passou a gravidez praticamente inteira internada no hospital.
Ela não conseguia comer direito, tomava inúmeros remédios, a pele descascava, havia cascas na língua, além de perder todos os dentes e muito cabelo. Todos os dias a mulher precisava tomar soro e vitaminas na veia para conseguir alimentar o bebê que carregava.
No dia do nascimento de Camila, Teresa comenta que perdeu muito sangue, devido à hemorragia que sofreu no parto natural. Ela precisou de seis litros de sangue. Além disso, a mulher teve passar pela curetagem, que é a limpeza do útero para retirar o restante da placenta.
“Quando a menina nasceu, eu não vi. Não pude ficar perto dela após o nascimento, nem amamentar”, recorda a mãe.
Teresa ficou ainda mais debilitada após o parto, e chegou a pesar 36kg. “Fiquei só em osso, onde me colocava eu ficava, não conseguia andar ou tomar banho sozinha. Os médicos falaram que eu não morri pois era muito saudável [antes da hepatite], era muito forte e tinha um organismo resistente. Se tivesse outra comorbidade, eu não aguentaria. Foi muito difícil”, comenta.
Longo processo de recuperação
A recuperação pós-parto foi muito lenta para Teresa, que só conseguiu sentar na cama quatro dias após dar à luz a Camila e ainda precisou ficar internada por 10 dias. Ela conta que foi segurar a bebê pela primeira vez após mais de um mês do nascimento. Além disso, quando conseguiu dar o primeiro banho na filha, ela já estava maior.
A mulher conta que durante dois anos não conseguia fazer nada. Ela teve o apoio do marido, hoje falecido, e da cunhada, que ajudavam cuidando das crianças, lavando a roupa e fazendo a comida. Quando não conseguiam, precisavam pagar uma faxineira.
Apesar do fígado ter sido atacado pela hepatite, Teresa comenta que a situação não chegou ao estágio da cirrose e por isso o transplante de órgão não foi cogitado.
Felizmente a bebê não nasceu com hepatite, devido todos os cuidados e tratamentos feitos durante a gravidez. No entanto, ela teve acompanhamento médico até os 5 anos para garantir que a doença não se manifestasse neste período.
Já o acompanhamento de Teresa durou o dobro do tempo. Durante todo esse período ela não pode trabalhar. O diagnóstico de cura veio nesta época.
Ela fez um exame, que não detectou a hepatite B, mas foi alertada pelo médico de que o vírus continuará pelo resto da vida. “Ele me aconselhou a não ter mais filhos, pois poderia passar por tudo de novo”, recorda.
Hoje a mulher está bem e conseguiu voltar a trabalhar. Ela cuida de um bar no bairro. Como consequência da doença, Teresa não pode ingerir bebida alcoólica e deve cuidar da alimentação. Comidas como feijoada ou pratos que levam a gordura de porco na receita são proibidos para ela. “Hoje estou bem, estou melhor”, diz.
Diagnósticos e impactos na vida do paciente
A hepatite viral é uma doença que provoca inflamação no fígado e é causada por um vírus. Existem cinco tipos: A, B, C, D e E.
De acordo com a gastroenterologista e hepatologista Josiane Fischer, as hepatites A e E são transmitidas por via fecal-oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados, ou ainda pelo contato com outras pessoas que têm a doença.
A médica explica que as hepatites B, C e D são transmitidas por via sexual ou parenteral, ou seja, por contato com sangue de uma pessoa doente, como, por exemplo, pela relação sexual sem preservativo; compartilhamento de material de higiene, como lâminas de barbear e depilar, escova de dentes e alicate de unha; material de tatuagem e piercing; da mãe para filho na gravidez; além do compartilhamento de materiais para consumo de drogas.
Os sintomas mais comuns nas hepatites agudas são dor no corpo, febre, náuseas, vômitos e icterícia – amarelo nos olhos e pele. “Na hepatite crônica pode não haver sintomas, que só aparecem quando o quadro evolui para cirrose e neste caso os sintomas são ascite – barriga de água, vômitos com sangue e distúrbio da consciência e memória”, explica.
A médica ressalta que o diagnóstico precoce é essencial para iniciar o tratamento se for necessário, e diminuir o risco de transmissão para outras pessoas, além de evitar que a doença progrida para estágio mais avançado como cirrose ou câncer hepático.
Segundo a profissional, o diagnóstico é feito através de exames de sangue ou teste rápido, que podem ser feitos nos postos de saúde.
Josiane alerta que a hepatite aguda pode causar perda da função hepática com necessidade de transplante hepático, além do paciente correr risco de morte. Já a hepatite crônica pode levar a cirrose e câncer hepático, o que também pode resultar em óbito.
No entanto, a hepatologista afirma que a hepatite A tem cura espontânea e a hepatite C possui tratamento curativo. Há ainda alguns pacientes com hepatite B que não se curam, mas existe tratamento para que a doença fique controlada.
“A maioria dos pacientes curados podem levar uma vida normal. Alguns pacientes continuam com cirrose. Esses precisam manter acompanhamento médico e a doença pode evoluir apesar da cura da hepatite”, finaliza a médica.