A Miss que não é julgada pela aparência
A gente pode dizer que era inevitável? Em algum momento da “evolução” da humanidade – com muita ênfase nas aspas, por favor – seria de se esperar que os concursos de miss fossem revistos e repensados. O curioso é isso ter acontecido no território e na época em que Donald Trump domina. Lembrando que ele já foi o dono do concurso mais famoso, aquele que acompanhamos aqui, o de Miss Universo.
Aqui, estamos falando do Miss America. Que agora se transformou em Miss America 2.0 e que, entre outras mudanças, aboliu o desfile em trajes de banho. Sim, beltranas e fulanos, as moças não são mais julgadas pela aparência. Pelo menos, não tão explicitamente. Não é mais uma questão de ter uma polegada a mais ou a menos. E podem usar os trajes que preferirem. As roupas de gala foram substituídas por trajes que expressem as suas personalidades. Incluindo calças. Você já pensou que dificilmente vemos calças em concursos de Miss? Vai ver, ainda não é considerada uma vestimenta feminina.
Mais importante ainda, o julgamento se dá pela capacidade de cada concorrente em exercer o papel de Miss America durante o ano de seu “reinado”. Isso inclui apoio a causas relevantes e uma visão de mundo, digamos assim, progressista. Uma das participantes, a Miss Michigan Emily Sioma, por exemplo, já se apresentou destacando a crise hídrica em seu estado, que, segundo ela, tem “84% da água potável norte-americana, mas que não é para o uso de seus habitantes”.
Em jogo, desde o nascimento do concurso, desde os anos 20 do século passado, estão bolsas universitárias e educação para mulheres. Ou seja, as mudanças não saem demais do caminho natural do Miss America. Apenas – e é um imenso apenas, convenhamos – o foco deixa de ser a beleza perfeita, dando mais peso para a inteligência e atividades das participantes. Sob alguns protestos (nas redes sociais todos protestam, não é?), a ganhadora da competição que aconteceu no último domingo foi Nia Franklin, do estado de New York.
Ainda não é o ideal. Talvez o ideal fosse mesmo deixar esse tipo de competição no passado, deixando de incentivar o preconceito estético… mas seria pedir demais, em um período tão pequeno e entre seres tão voltados ao culto da beleza como somos nós, os seres humanos.
Por enquanto, o fim dos trajes de banho e o foco no que as misses têm a dizer, sem ser aquele decoreba de livro preferido e desejos de paz no mundo, já é um bom primeiro passo. E… antes que você comece a pensar “o mundo está ficando chato”… que tal pensar que talvez ele esteja ficando só mais justo?
Claudia Bia – jornalista que lembra dos maiôs Catalina e que já soube de cor a letra da Canção das Misses, tema do nosso Miss Brasil.