Metalúrgicas de Brusque estão atentas à reestruturação das grandes montadoras
Fim da fábrica da Ford é relevante para o mercado, mas não deve impactar indústrias locais
A reestruturação de diversas montadoras de veículos – como a General Motors e a Ford – tem impacto em toda a cadeia produtiva do setor automotivo. BorgWarner e Zen, de Brusque, não preveem impacto significativo em decorrência dos últimos acontecimentos, mas estão atentas às mudanças do mercado.
O fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (ABC Paulista) foi anunciado pela montadora norte-americana no mês passado e pegou o setor automotivo de surpresa.
De Brusque, tanto a BorgWarner quanto a Zen são fornecedoras da Ford. As duas empresas são especializadas em algumas peças que compõem alguns modelos da marca.
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Em ambos os casos, a companhias informam que não são altamente dependentes da montadora. As carteiras diversificadas servem como proteção para elas, que, em casos como este, não são tão impactadas.
A Borg produz em volumes “baixos” para a Ford, por isso prevê impacto mínimo na sua produção. A Zen fornece, atualmente, de forma indireta o impulsor de partida, carro-chefe da empresa, e a polia para o alternador para a montadora.
Reorganização global
A Ford tem acumulado resultados negativos e, nos últimos anos, perdas significativas no Brasil. Há informações de que nos últimos dois anos já havia a possibilidade de fechamento da planta em São Bernardo do Campo.
Com o fechamento da fábrica no ABC Paulista, a Ford deixará de produzir e vender os caminhões Cargo, F-4000 e F-350 no Brasil, além do Fiesta, que era o único modelo ainda fabricado na unidade.
A empresa promove, neste momento, uma reorganização global das suas linhas de produção. Por exemplo, a fábrica da Ford em Blanquefort, perto de Bordeaux, na França, também será fechada.
Pouco antes da Ford, em janeiro a GM divulgou um comunicado nas suas fábricas no qual alertava que a continuidade da operação no Brasil dependia de um plano para viabilizar os negócios.
Os últimos três anos foram ruins para a GM, que quer voltar a lucrar. A montadora negocia com o governo de São Paulo benefícios fiscais e também fez acordo com os trabalhadores.
Em assembleia no dia 7 de fevereiro, os trabalhadores da GM de São José dos Campos (SP) aprovaram a proposta de ficar sem reajuste em 2019 e sem abono de R$ 2,5 mil. Foi uma forma de tentar prevenir o fechamento da unidade, que causaria desemprego em massa.
Os casos da Ford e da GM são amostras da reorganização global que ocorre no setor automotivo. Não só as duas, mas outras também têm alterado seu posicionamento de mercado.
A Borg enxerga neste movimento do segmento a possibilidade de reação.
“Acreditamos que as demandas de mercado não atendidas pela Ford serão absorvidas por outras marcas, o que pode acarretar um ajuste de carteira das montadoras que atendemos e, consequentemente, cobrir o volume (mesmo que baixo dentro da fábrica de Brusque) deixado pela Ford”, informa em nota a multinacional.
O presidente da Zen, Gilberto Heinzelmann, vai na mesma direção. Para ele, não existe uma crise do setor e a redução da Ford será suprida por outras montadoras.
“Não enxergamos a crise, existe fragilidade da Ford, na medida que a indústria está em processo de transformação. Tem a preponderância cada vez maior da Ásia, a migração para veículos híbridos e elétricos e consolidações, então temos uma dinâmica de mais fragilidade que outras, mas não existem as crises”, analisa o executivo.
Diversificação
O mercado automobilístico mundial é um dos mais competitivos. Ainda mais com o barateamento da mão de obra no Sudeste Asiático, é cada vez mais difícil para fábricas em outros países se manterem saudáveis no segmento.
Experientes, a BorgWarner e a Zen têm carteiras diversificadas. Por exemplo, a Zen atende vários clientes, sendo que os mais importantes respondem por, no máximo, 12% da produção total.
Além de terem muitos clientes, as duas metalúrgicas também atuam no segmento de reposição – um mercado importante no contexto geral.
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As duas companhias esperam crescer, mesmo com a reorganização mundial das montadoras. A expectativa é que a economia seja destravada e o mercado volte a crescer.
A Borg informa que espera manter as vendas de 2018, que foram muito boas. Diz ainda que acredita na recuperação gradativa do mercado.
“Nossa fábrica de Brusque se prepara para produzir, pela primeira vez, motores de partida stop/start. Isso prova que nosso compromisso em conquistar novos projetos e tecnologias localmente continua presente”, diz em comunicado a BorgWarner.
“Temos vindo de quatro anos de crescimento, de 2014 para cá, o crescimento se intensificou ano passado, com faturamento de mais 17% e agora temos planos de crescer dois dígitos percentuais em 2019”, explica o presidente da Zen.