Matias Kohler faz balanço dos oito anos como prefeito de Guabiruba: “cidade cresceu e evoluiu muito”
Ele afirma que não pretende se candidatar em 2022, mas quer ajudar na união das lideranças da região
Em 31 de dezembro de 2020, chega ao fim o governo de Matias Kohler (PP) em Guabiruba. A administração de Kohler durou dois mandatos e começou em 2013. Desde então, o município passou por várias transformações, desafios causados por oscilações econômicas e políticas no aspecto federal e, neste ano, a pandemia da Covid-19.
Olhando em perspectiva, Kohler acredita que fez as decisões de acordo com o que a cidade precisava em diferentes momentos. Ele vê avanços em várias áreas, mas destaca que a boa relação com a comunidade é o seu maior legado.
“No momento que entramos em 2013, viemos com a proposta de que a comunidade precisava participar e o guabirubense participou de forma espontânea e intensa. Isto traz uma nova realidade para o governo. Independente do prefeito que vier daqui para frente, não vai ser mais um governo de gabinete. Vem da rua, das entidades, das pessoas, para a prefeitura. A maior prova de que a gente vem no caminho certo, da nossa aprovação, foi a eleição do Zirke. Para mim, isso foi o prêmio após esses oito anos”.
Pandemia
“O ano de 2020, especificamente, foi muito desafiador. A pandemia trouxe um cenário totalmente novo. Não nos restava alternativa a não ser enfrentar esse desconhecido, que trouxe a maior parte das nossas aflições. Não tínhamos um parâmetro para tomar as decisões. No conjunto, conseguimos fazer o melhor trabalho possível neste sentido. Vidas foram perdidas, talvez vamos perder mais até que tenhamos uma solução definitiva, mas todos os gestores tentaram acertar e dar a maior segurança possível aos munícipes. Isto dá uma ligeira sensação de dever cumprido diante da pandemia”.
Planos para o futuro
“As pessoas me cobram um posicionamento. A partir de 1º de janeiro, eu retorno para a Kohler. Me afastei da empresa por oito anos para assumir a prefeitura e não tenho, a princípio, nenhuma ambição de disputar uma eleição futura. Muitas pessoas já me procuraram para uma possível candidatura a deputado, mas, neste momento, não está nos meus planos. Gosto de Guabiruba, quero ajudar o próximo prefeito, se ele precisar. Se ele não precisar, melhor ainda. Mas, qualquer pessoa, evento, quero estar à disposição”.
Legado
“Sem falsa modéstia, Guabiruba cresceu e evoluiu muito nestes últimos oito anos. Não coloco como mérito meu, mas sim como uma nova realidade que a cidade aprendeu a viver. As pessoas passaram a participar mais das decisões. Os resultados se tornaram melhores. Durante o período eleitoral, ouvi que esta foi a melhor administração, mas eu apenas fiz o meu trabalho. Confesso que, na minha visão, o maior legado foi abrir a prefeitura para a população para as tomadas de decisões”.
Altos e baixos
“Em 2015, veio a crise, nos derrubou a queda de arrecadação como talvez nunca visto antes, assim como 2016. Abrimos um novo governo em 2017, fizemos as grandes obras na questão viária em 2018 e 2019, assim como no social. Em 2020, mais um ano que era para ser excelente, com incremento de receitas, mas veio a pandemia, que nos deu uma rasteira.
Nesses oito anos, não teve nenhum momento em que eu pudesse dizer que estávamos tranquilos. Trabalhamos constantemente para a superação dos desafios. Trabalhamos por oito anos intensamente.
A pandemia foi um desafio extremo, mas acredito que a queda de arrecadação em 2015 e 2016, com limitação da folha de pagamento e outros atos que tiveram que ser tomados em um momento em que a expectativa da população era grande, acredito que foi mais intenso que a própria pandemia. A pandemia trouxe uma preocupação muito forte em relação à vida, mas houve uma ação muito forte dos governos federal (aspecto financeiro) e estadual (orientação) para apoiar o município”.
Arrependimentos?
“Não consigo encontrar nenhuma ação ou projeto que executamos que faria diferente. Vejo que avançamos, tivemos grandes conquistas, obras e melhorias. Não querendo parecer soberbo, mas acredito que sempre buscamos as melhores atitudes nos momentos adequados.
Nós queríamos ter concluído a revitalização da avenida Carlos Boos e da Guabiruba Sul, que já iniciou. Talvez sejam as duas obras mais significativas para o plano viário. Essas obras eram para ter acontecido no início do ano, mas veio a pandemia e foi empurrado para o próximo governo”.
Escola João Boos
“Especificamente em relação à escola João Boos, que é uma obra do estado, buscamos, desde 2013, um diálogo com o governo do estado. Em 2014, o então governador Raimundo Colombo chegou a pousar com o helicóptero na escola e assumiu o compromisso de fazer a obra. Mas os projetos sumiram, os valores que estavam garantidos não apareceram mais. Penso que o que estava ao nosso alcance, fizemos. Não temos o poder de impor.
O que se estranha nesse discurso (dos adversários políticos durante a campanha) é que, historicamente, o MDB, que reclamou da omissão do município, sempre foi o detentor do poder no estado e não conseguiu fazer. Eles ocuparam os cargos estaduais relativos à Educação. Em nenhum momento, se percebeu a mesma vontade de fazer a escola, ao contrário. O que nos consta é que houve a tentativa de postergar isto até que eles voltassem ao poder. E como não estão voltando, me parece que a obra está sendo protelada indevidamente e com prejuízo para a população. Não seria uma obra do prefeito Matias, seria uma obra do governo do estado dentro do município de Guabiruba”.
Relação com políticos
“Senti uma vontade de cooperar muito forte, um bom entrosamento, começando pela Câmara. Nunca tivemos problemas de convivência, apenas alguns questionamentos normais. Em relação aos políticos da região, sentimos uma cooperação muito grande, principalmente entre Brusque, Guabiruba e Botuverá. Essa vontade de partilhar experiências, partilhar e pleitear junto. Isso eu amplio para os 14 municípios da Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi), isso sempre foi muito presente. Vivemos um período de ganho e amadurecimento.
O que falta, no meu ver, é a região pensar melhor a representatividade em termos de candidaturas para processos eleitorais. Não é possível que uma região que tenha votos suficientes para eleger talvez até dois deputados, não eleja nenhum. Os partidos da região às vezes pensam no seu grupo político e acabam não pensando em um projeto político regional, onde talvez os partidos tenham que se somar, renunciar aspirações individuais. Teríamos que pensar de maneira mais coletiva. Todos concordam que temos que ter mais unidade, mas ninguém se dispõe a ceder. Estou disposto a participar desse debate, não como candidato, mas no sentido de fortalecer e propagar essa ideia”.
Água
“É um dos grandes problemas que a cidade ainda vive. Vem de mais de 40 anos com a Casan, nos últimos 10 praticamente nenhum investimento. Tínhamos a intenção de melhorar a relação, mas eles não se dispuseram a investir. Não foi possível uma autarquia pelos valores que precisavam ser investidos para recuperar uma estrutura sucateada. A alternativa foi uma nova concessão. Perdemos mais um ano por causa da questão do Tribunal de Contas, quando já estava tudo finalizado. Um cenário que caminhava para o caos. Tínhamos uma empresa com contrato emergencial, que não poderia fazer investimentos.
A empresa, quando participou do processo de concessão, assumiu um cronograma com previsões para cada período. Isto nos dá uma certeza de que vai melhorar a capacidade de captação e tratamento nos próximos dois, três anos. É uma série de investimentos iniciais que a Guabiruba Saneamento vai fazer. Em um cenário de dez anos, vai trazer um novo horizonte para o tratamento de água e saneamento. Gostaríamos que fosse diferente, mas não há mágica. Em nenhum momento, disse que a situação estava boa. Sempre soubemos da limitação. A concessionária precisa de um tempo para aplicar todas as melhorias e dar uma garantia maior para o guabirubense”.
Sucessor
“Não é comum um terceiro mandato consecutivo. Atribuímos isso à essa participação da comunidade no governo. O Zirke, por iniciativa dele, sempre esteve na prefeitura comigo. Foi, de certa forma, uma faculdade para ele no sentido de entender os desafios da administração. Considero que ele está apto e saberá das responsabilidades que está assumindo. O secretariado deve ter continuidade, não há a necessidade de uma organização antes de começar a administração. Conseguimos também ter um saldo financeiro razoavelmente bom. Vai assumir com capacidade de investimento. Aposto que o governo Zirke/Cledson possa ser muito melhor que o de Matias/Zirke”.