Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Lutero 500 anos depois

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Lutero 500 anos depois

Pe. Adilson José Colombi

No dia 31 de março de 2017, numa audiência aos historiadores do Congresso “Lutero 500 anos depois”, promovido pelo Pontifício Comité de Ciências Históricas, o papa Francisco agradeceu os organizadores e disse “não muito tempo atrás, um Congresso do gênero seria impensável.” E acrescentou: “Falar de Lutero, católicos e protestantes juntos, por iniciativa de um organismo da Santa Sé: realmente tocamos com as mãos os frutos da ação do Espírito Santo, que ultrapassa toda barreira e transforma os conflitos em ocasiões de crescimento na comunhão”.

O papa Francisco também indicou que a comemoração dos 500 anos da Reforma de Lutero deu a oportunidade de olhar o passado juntos, católicos e protestantes, livres de preconceitos e polêmicas ideológicas, discernindo o que de positivo e legítimo aconteceu e se distanciando de erros, exageros e falências. E salientou que tudo isso foi possível por causa do movimento ecumênico. “Hoje, depois de 50 anos de diálogo ecumênico entre católicos e protestantes, é possível realizar uma ‘purificação da memória’, que não consiste em realizar uma impraticável correção do que aconteceu 500 anos atrás, mas em ‘narrar esta história de modo diferente’, sem vestígios daquele rancor pelas feridas sofridas, que deforma a visão que temos uns dos outros.”
Como cristãos -concluiu o Papa- somos todos chamados a nos libertar dos preconceitos pela fé que os outros professam, a oferecer mutuamente o perdão pelas culpas cometidas e a invocar de Deus o dom da reconciliação e da unidade.

Sempre é bom lembrar que a denominada Reforma Protestante não mudou somente a História do Cristianismo, mas transformou profundamente a Sociedade e a Cultura anglo-saxônica e influenciou profundamente a Europa e outros continentes. Em Filosofia, por exemplo, não é possível compreender o pensamento filosófico moderno e mesmo a cultura europeia e universal sem levar em conta os princípios filosófico-antropológicos que sustentaram e sustentam a Reforma Protestante. Princípios que permeiam toda a Modernidade e a Contemporaneidade, em suas manifestações teológicas, literárias, musicais, educacionais, econômicas, científicas, jurídicas e nas artes plásticas.
São 500 anos de presença, portanto, que criou e plasmou uma (weltanschauung) mundivisão, tanto no espaço teológico como no espaço do universo profano. Uma herança que marcou significativamente todos os ambientes socioculturais das sociedades e das culturas.

Hoje, porém, a herança de Lutero está tão esfacelada em quantidade enorme de denominações religiosas cristãs que se dizem herdeiras de Lutero ou dos reformadores que se torna difícil reconhecer, em algumas delas, autêntica relação com o pensamento de Lutero. É patente que essa multidiversidade de denominações cristãs dificulta um autêntico ecumenismo que mantenha um nível tão elevado como foi o do Congresso “Lutero 500 anos depois”. Certamente, isso é uma perda que compromete o “caminhar juntos”, naquilo que é comum no “Patrimônio da Fé”, respeitando as diferenças, próprias de seu estilo de visão e de vida de cada experiência de fé.

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