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Rui Barbosa: 100 anos de sua morte

Após sua brilhante participação na Conferência de Paz realizada em 1905, uma anedota foi repetida por muito tempo, enaltecendo a figura de Rui Barbosa, a partir de então, apelidado de Águia de Haia. Um indivíduo teria entrado numa alfaiataria e, após cumprimentar o dono, disse-lhe educadamente: – Sou professor de português e gostaria de lhe […]

Após sua brilhante participação na Conferência de Paz realizada em 1905, uma anedota foi repetida por muito tempo, enaltecendo a figura de Rui Barbosa, a partir de então, apelidado de Águia de Haia. Um indivíduo teria entrado numa alfaiataria e, após cumprimentar o dono, disse-lhe educadamente:

– Sou professor de português e gostaria de lhe parabenizar por ter homenageado ao nosso grande Rui Barbosa, o patrono dos advogados do Brasil, exímio orador, jornalista, personalidade política marcada pela honestidade e amor por esta nação que navega em mar tempestuoso, em busca de um porto seguro para construir uma sociedade de bem-estar social.

– Rui foi também um habilidoso diplomata. Na Conferência de Haia, projetou a imagem do Brasil perante as nações do mundo inteiro, ao proferir discursos dos mais aplaudidos em favor da paz, da democracia, da igualdade das pessoas e da autodeterminação dos povos. Deixou a Holanda com o prestigioso epíteto de Águia de Haia. Como alfaiate, é claro, você não tem obrigação de saber tudo isso.

– Olha, eu sabia que Rui Barbosa tinha sido um grande brasileiro. Mas, confesso que desconhecia tudo isso, disse o alfaiate.

– Tem muito mais ainda, meu caro alfaiate. Rui escreveu suas importantes obras jurídicas e políticas numa linguagem gramaticalmente impecável, num estilo literário admirável. Enfim, foi um mestre da linguística portuguesa. Indiscutivelmente, Rui foi um admirável cultor da língua vernácula. Tanto que, com todo o mérito, foi um dos fundadores e presidente da Academia Brasileira de Letras.

– Também desconhecia as habilidades literárias desse ilustre brasileiro, nascido na Bahia.

– Pois é em respeito ao amor que Rui sempre teve pela língua portuguesa que gostaria de dizer-lhe que a placa da sua alfaiataria contém um grave erro ortográfico. Lá está escrito “Agúia de Ouro”. Acho que você não se deu conta de que o acento agudo deve ser colocado no “a” maiúsculo. Por isso, em consideração a esse grande personagem da vida brasileira, defensor incansável da língua portuguesa, peço-lhe que corrija a placa e mande colocar o acento agudo que falta na palavra Águia.

Mostrando a agulha com que estava alinhavando um paletó, explicou pacientemente.

– Meu caro professor, o nome da minha modesta alfaiataria não é uma homenagem ao grande Águia de Haia. Penso que ele merece muito mais que uma simples placa de alfaiataria. É que todos os meus fregueses me consideram um excelente profissional e me deram o apelido de Agúia de Ouro, pelos meus alinhados que dizem perfeitos.

Há 100 anos, no dia primeiro de março de 1923, Rui Barbosa morria na cidade de Petrópolis. Sua morte foi dominada pela emoção popular que se espalhou por todo o Brasil. Naquele dia, a Águia de Ouro deixou a terra que tanto amou e partiu para o espaço infinito, voando sobranceiro nas asas douradas da imortalidade.