João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Primeiro automóvel de brusque e o ladrão de cavalo

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Primeiro automóvel de brusque e o ladrão de cavalo

João José Leal

Segundo anotou o historiador Ayres Gevaerd, Brusque contava em 1917 com apenas três veículos automotorizados a circular pelas ruas da cidade, construídas a pá e picareta para o trânsito de carroças, carros de bois e cavaleiros vindos da zona rural a negócio ou a passeio. Quanto ao primeiro proprietário, uma curta nota de jornal do mês de agosto daquele ano registra que o senhor Niebuhr acabara de comprar um automóvel, usado para prender um ladrão.

A cidade, então tranquila, vivia em segurança, desconhecendo a delinquência que hoje nos faz viver trancafiados em nossas casas cercadas por altos muros, encastelados nas alturas dos edifícios, desconfiados dos rostos estranhos que caminham em nossas ruas. No entanto, se Caim matou Abel, é porque por mais que uma comunidade seja segura, algum crime sempre vai ocorrer. Assim, mesmo naquela Brusque tranquila de 1917, aconteceu um roubo que despertou a curiosidade dos brusquenses.

A notícia logo se espalhou pela cidade. Na edição do dia 16 de agosto de 1917, a Gazeta Brusquense noticiou que um indivíduo havia roubado um cavalo de montaria e disparado em direção ao vizinho município de Nova Trento. Confiante na velocidade do animal alheio, o ladrão cavalgava seguro, certo de estar fora do alcance das mãos da justiça que, à época, andava a pé e devagar.

Montado em seu cavalo, o surrupiador viajava a trote largo, confiante na impunidade da sua ação criminosa, esquecendo que roubar ainda não compensava nem contava com os benefícios das nulidades hoje consagrados pelas altas instâncias judiciárias para alforriar os grandes ladrões desta nação.

Infelizmente, para o incauto afanador do equino, se o castigo não chegou a cavalo, veio muito mais rápido, de automóvel. Para sua desgraça, logo que tomou conhecimento do furto, o dono do cavalo “perseguiu o gatuno no automóvel do senhor Niebuhr e, antes de uma hora, o ladrão foi preso em flagrante”. Diz o jornal que o gatuno foi a “primeira victima do primeiro automóvel de nossa cidade”.

Em 25 de outubro do mesmo ano, o jornal publicou mais uma nota sobre o azar dos ladrões brusquenses com o automóvel. Cheia de ironia, a Gazeta noticiou que um outro ladrão tinha alugado o mesmo veículo “do sr. Niebuhr para fugir da cidade” e não contava com a sua prisão tão rápida. Acabou preso “pela polícia que o perseguiu no automóvel do sr. Bauer”, que deveria ser o industrial João Bauer.

Há mais de 100 anos, o automóvel foi usado para prender ladrão. Hoje, este rouba carros para fugir da polícia.

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