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Jair Bolsonaro e a síndrome do mau perdedor

Candidato duas vezes a presidente da República, Leonel Brizola culpou a Globo e o sistema eleitoral por suas derrotas nas urnas. Mas, quando eleito deputado federal e duas vezes governador do Rio de Janeiro não reclamou da Globo nem falou de fraude eleitoral. Também derrotado nas duas primeiras campanhas presidenciais, Lula da Silva questionou o […]

Candidato duas vezes a presidente da República, Leonel Brizola culpou a Globo e o sistema eleitoral por suas derrotas nas urnas. Mas, quando eleito deputado federal e duas vezes governador do Rio de Janeiro não reclamou da Globo nem falou de fraude eleitoral.

Também derrotado nas duas primeiras campanhas presidenciais, Lula da Silva questionou o resultado das urnas, levantou suspeita sobre a validade do voto eletrônico e denunciou a Globo de fazer campanha contra o PT. Surpreso, lembro bem daquela imagem televisiva. Na noite seguinte à sua vitória, vi o então presidente eleito no meio do William Bonner e da Fátima Bernardes a prometer o paraíso para os brasileiros.

Chamo a isso de síndrome do mau perdedor, que não é defeito somente de alguns políticos brasileiros. Recentemente, no seu último delírio de insensatez autoritária, Donald Trump, talvez o pior presidente norteamericano, se recusou a aceitar a vitória do adversário, sob a falsa alegação de fraude eleitoral. Quatro anos antes, mesmo sem ter recebido a maioria dos votos populares, tinha assumido a presidência sem falar fraude.

Há três anos, turbinado pelo desejo de mudanças e pelo sentimento anti-petista da maioria dos eleitores, Jair Bolsonaro acabou vencendo a disputa presidencial. Então, considerou perfeitamente legítima a sua eleição pelo voto eletrônico.

Até o ano passado, as pesquisas indicavam forte aprovação ao seu governo, inclusive, à sua reeleição para mais um mandato presidencial. No entanto, graças ao seu comportamento e ao seu despreparo, o cenário mudou e o presidente Jair Bolsonaro está revelando, agora, a sua face escancaradamente autoritária.

A última pesquisa eleitoral realizada pelo DataFolha aponta que a maioria dos brasileiros (66%) considera o presidente despreparado para exercer o cargo e desaprova o seu governo. Os números apontam, ainda, que Jair Bolsonaro (36%) será derrotado por Lula da Silva (56%) na próxima eleição presidencial, inclusive para outros candidatos no páreo.

Picado pela mosca da reeleição e por sua permanência na cadeira presidencial, Jair Bolsonaro está revelando, agora, a sua face escancaradamente autoritária. Rejeita o resultado das pesquisas com declarações grosseiras e impublicáveis. Ataca o sistema eleitoral, o mesmo que lhe garantiu a vitória em 2018. Quer acabar com o voto eletrônico que considera fraudulento e que, a seu ver, permite a manipulação do resultado das eleições.

O presidente Bolsonaro sente que perdeu a maioria do apoio popular e que dificilmente será reeleito. Porisso, padecendo da síndrome do péssimo perdedor, insiste em afirmar que a próxima eleição presidencial será uma fraude e que se o voto eletrônico for mantido, não vai aceitar o resultado das urnas.

Não creio que as forças armadas colocarão a mão no fogo por um ex-capitão que saiu do exército pela porta dos fundos.