João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Covid-19 e o agronegócio brasileiro

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Covid-19 e o agronegócio brasileiro

João José Leal

“Em se plantando, tudo dá”. Pero Vaz de Caminha não escreveu bem assim. Mas, na sua Carta, disse ao rei Dom Manuel que esta “terra em si é de muito bons ares e, de tal maneira, graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem aqui”. Naquele momento da nossa história, Caminha não tinha ideia da imensidão e da riqueza natural da terra conquistada. Mas, parece que o escrivão da esquadra de Cabral carregava consigo uma bola de cristal. Foi mesmo um verdadeiro profeta. Tanto, que a história econômica brasileira tem confirmado a sua profecia.

Primeiro, foi o Ciclo do Pau-Brasil, até esgotar a nossa reserva florestal dessa árvore que deu nome à nação brasileira. Depois, veio a cana-de-açucar, então preciosa especiaria, cultivada pelas mãos calejadas e sangradas de um exército de escravos negros de dorso lanhado, nas fazendas dos coronéis nordestinos. Mais tarde, já no século 19, porque açúcar e café se completam, foi a vez das imensas plantações que transformaram o Brasil no maior produtor mundial desse grão, também chamado de “ouro verde”.

Agora, é a hora e vez da grande riqueza produzida pelo agronegócio do CentroOeste brasileiro. Quando vemos aquelas modernas e sofisticadas máquinas agrícolas trabalhando em meio a extensas plantações de perder de vista, colhendo milhões de toneladas de grãos, parece que Caminha tinha razão. Realmente, somos um país vocacionado para a agricultura e a produção alimentos.

A nossa Brusque também foi criada para ser uma colônia agrícola. E assim foi até as primeiras décadas do século passado. Tanto que, na sua edição de 19 de dezembro de 1917, a Gazeta Brusquense publicou uma Circular do Joaquim Domingues de Oliveira determinando que os padres da sua Diocese dessem ampla divulgação à Proclamação do presidente República e do ministro da agricultura, pelo “Augmento da Produção Nacional”.

Dizia o bispo que “a vida terrestre dos homens” é um dos fins da Igreja e que os agricultores brasileiros tinham o dever de trabalhar mais para aumentar a produção de alimentos, a fim de evitar ou minimizar os horrores da fome causada pela tragédia da primeira guerra mundial. Não era só uma questão de solidariedade humana. Dom Joaquim também dizia que a demanda por alimentos tinha aumentado muito e os preços eram “altamente compensadores”.

O Brasil, não é mais um país essencialmente agrícola como no passado. A indústria e o setor de serviços são, também, importantes fatores da riqueza econômica brasileira. E Brusque encontrou o caminho da industrialização, com predomínio do setor têxtil e, agora, da confecção.

Hoje, o mundo não está em guerra. Não houve proclamação presidencial nem pedido do bispo para o aumento da produção agrícola nacional, como aconteceu em 1917. No entanto, a Covid-19 é como se fosse uma tragédia mundial. Está causando um enorme estrago nas economias nacionais. Há escassez de alimentos e a fome, que sempre atingiu os povos mais pobres, vai certamente aumentar.

Novamente, como há cem anos, a produção de grãos e carnes, parece despontar como a salvação da economia brasileira.

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