João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Conversas Praianas: biquínis e fio dental

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Conversas Praianas: biquínis e fio dental

João José Leal

Mês de agosto quase na metade, já vai longe a alta temporada de se ver milhares de veranistas lotando a faixa de areia próxima ao mar, na larga praia central de Balneário Camboriú. Mas, a Dubai brasileira não vive apenas da multidão de turistas dos meses encalorados de verão. Num país em que muitos trabalham duro para gerar a riqueza nacional, outros tantos podem meter os pés na estrada e parece que todos os caminhos levam ao litoral.

O último final de semana, nem parecia inverno. Pelas dez da manhã, o sol apareceu, esquentou e não eram poucos os veranistas minimamente vestidos. Todos queriam aproveitar o veranico atravessado em plena estação hibernal. Bermudas, calções e sungas, eis a indumentária praiana masculina. Mulheres vi, de bermudas, calça comprida e colante até as canelas. E, claro, maiôs e biquínis de todos os tamanhos, numa exibição que já não assusta, não choca nem provoca a ira da antiga moral.

Não era assim, no começo do século passado, quando os maiôs cobriam quase todo o corpo. As mulheres pioneiras precisaram de muita coragem para enfrentar as ondas do mar e a força do preconceito forjado por uma moral machista. Mesmo assim, só de touca, sapatilhas e muito pano até as canelas é que as mais ousadas mulheres metiam o pé na areia da praia. Costumes e leis eram tão severos que a nadadora australiana Annette Kellerman foi presa, em 1907, por usar um maiô sem mangas.

A severidade dos costumes, no entanto, não resistiu à força do tempo e ao atrevimento das mulheres. Do longo maiô, que descia às canelas da donzela, até o biquíni, foi um percurso de décadas. A cada geração, o tamanho das peças foi reduzindo para tornar o biquíni uma indumentária praiana conservadora, em face da sua versão mais provocativa e sensual, o fio dental, duas peças que se reduzem ao tamanho de uma folha de maçã na dianteira e a um sensual cordel no traseiro.

Muitas delas e não somente jovens e adolescentes, até sessentonas vi, trajando um fio-dental, tão insignificante e provocativo que já não esconde mais nada e que faria corar de vergonha a paradisíaca Eva da folha de figueira do pecado, se pudesse ela viajar no tempo para uma rápida caminhada nas areias da Dubai brasileira.

Na sua caminhada através dos tempos e dos lugares, a moda praiana foi cortando tecido a cada geração, afrontando regras da moral mais conservadora e deixando os olhares maliciosos de volúpia no seu caminho.

A verdade é que a moda à beira-mar prima pela indumentária minimalista e se a tesoura do atrevimento continuar cortando pano, a nudez completa, que já está por um fio, tomará conta das nossas praias. Afinal, a moda à beira-mar é filha da ousadia, do atrevimento feminino e da liberdade de se trajar sem catecismo.

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