João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Conversas de consultório: exame Pet-Scan

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Conversas de consultório: exame Pet-Scan

João José Leal

Na sala de espera do cardiologista, dois pacientes, cabelos brancos e mais de 60 anos, estão conversando e o assunto não pode ser outro. Um deles disse que passou um bom tempo preocupado com uma forte dor que parecia ser no estômago ou na região do fígado e que ia até as costas.

— A dor me deixava irritado, assustado. Consultei diversos médicos e fiz uma bateria de exames que não acabavam mais. Não conseguiram descobrir a doença. Sempre escutei que o câncer é hereditário. Na minha família, dois parentes próximos morreram por causa dessa doença maldita. Botei na cabeça que estava com câncer na bexiga ou em outro órgão.

— É estranho. Tem vacina pra tudo. Pra essa terrível Covid descobriram uma vacina em poucos meses. Mas para o câncer, nada. Continua matando os seus doentes. Só pode ser coisa dos grandes laboratórios interessados em ganhar dinheiro com tratamentos demorados e caríssimos.

— Não sei se você já passou por uma situação parecida. A gente fica pra baixo, vive numa agonia danada, perde o apetite, não tem vontade de fazer nada. Parei até o jogo de bocha, minha única diversão depois que me aposentei. Tinha perdido a vontade de ir à cancha tomar uma cerveja e rolar umas bolas. Já não pensava em mais nada, só no espectro macabro dessa doença terrível me levando pro cemitério. Cheguei a mandar minha mulher ver se a sepultura da família estava em ordem.

— O último médico, desses que só tratam do estômago, me disse “olha, eu acho que você não tem nada de grave”. E me mandou fazer um exame chamado Pet-Scan. O SUS até que paga, mas a gente precisa esperar meses, até mais de ano. Eu estava tão assustado que não quis esperar e resolvi pagar do meu bolso. Custou-me o olho da cara. Mas, esperar pelo SUS era correr o risco de morrer antes do exame. Aí, não adiantaria nada ter dinheiro guardado no banco.

Curioso, o outro paciente perguntou:

— Olha, eu já fiz muitos exames, raio-X, eletrocardiograma, ultrassonografia. Até cateterismo já fiz. Mas, nunca ouvi falar desse exame. Quando você mencionou o nome até pensei que fosse alguma coisa ligada a cachorro. Tem tanto pet-shop na cidade! Que exame é esse, tão caro?

— O médico me explicou que é um exame de medicina nuclear, mais avançado que a tomografia. A gente toma uma gororoba pra formar o contraste, entra naquele túnel parecido com o tomógrafo e fica uma hora naquele sufoco, escutando um bipe-bipe parecido com o alerta de um caminhão em marcha à ré. Então, recebi uma descarga violenta de radiação, um monte de raios atômicos. Dizem que é para tirar imagens de precisão de todo o corpo.

— Paguei caro, mas valeu a pena. Pelo resultado, o médico disse que não tenho nenhum tumor. Agora, estou aqui para consultar com o cardiologista. É triste, a gente envelhece e fica que nem barco avariado, fazendo água por todos os lados. Vivo consultando médicos, que nos enchem de remédios que fazem bem para uma coisa e mal para outra. Tenho amigos que ainda acreditam nessa tal de Melhor Idade!

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