João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Colônia Brusque: o medo dos bugres

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Colônia Brusque: o medo dos bugres

João José Leal

Desde a fundação da Colônia de Brusque e durante muito tempo, os colonos viviam preocupados com a sua a segurança, atormentados com a ideia de serem atacados por bugres, como assim eram chamados. Imaginavam que, a qualquer momento, um indígena poderia misteriosamente surgir do meio da mata fechada e que estes não passariam de um povo selvagem, traiçoeiro e violento. Portanto, gente inimiga a ser combatida sem dó nem piedade.

No entanto, o preconceito carregado desde a Europa não tinha razão de ser. Na verdade, comprovados por documentos, os ataques dos índios foram poucos nos primeiros e difíceis anos da colonização. O primeiro deles, o mais grave, somente ocorreu em março de 1863 – quase três anos após a fundação da Colônia – numa serraria situada nas Águas Claras, fora do território colonial.

Na ocasião, o destacamento policial já havia sido transferido. Uns 30 indígenas surgiram do mato e mataram três trabalhadores não-colonos. Um quarto conseguiu escapar, jogando-se ao rio para chegar à sede Colônia, como verdadeiro herói e relatar o terrível e assustador ocorrido. Então, era natural que o pânico se espalhasse entre os colonos.

Mais dois anos se passaram. Em dezembro 1865, “bugres em número estimativo para cima de sete”, surgiram inesperadamente na roça do colono prussiano Guilherme Seefeld, morador da Pomerânia. Com ele estava o badense João Brehen, trabalhando com machados e enxadas, “sem outras armas”. O recurso foi a fuga em disparada para a casa do primeiro, onde foram acudidos por outros colonos. A correria não impediu de serem flechados. Os bugres, então, aproveitaram para roubar machados, enxadas e outras ferramentas.

Pela gravidade e importância, o ataque deve ter criado um clima de pânico entre os colonos e foi relatado ao Presidente da Província. Escreveu o Barão de Schneéburg, em documento arquivado na Casa de Brusque, que o colono Guilherme Seefeld recebeu uma flechada “no osso sacro com uma profundidade de ½ polegada”. Seu companheiro de fuga também não escapou da boa pontaria indígena e foi atingido por três flexas, uma no braço direito e outras duas na coxa, uma delas “perto das nádegas”.

Apesar dos socorros prestados pelo médico da Colônia, anotou o Barão que “Guilherme Seefeld veio a falecer em 24 horas”. Mas, tinha esperança de salvar a vida de João Brehen, embora pudesse ficar com uma perna deficiente. No ofício, sentindo-se responsável pela segurança dos colonos, apelou aos “phylantrópicos sentimentos do governo imperial e do Império” para pedir uma pensão ou ajuda financeira em favor da viúva, que cuidava da “sua velha mãe e duas crianças menores”. E, também, para João Brehem que ficou parcialmente inválido.

Era preciso tranquilizar os colonos. Na tarde do ataque, “3 escoltas de colonos, vizinhos e brasileiros” saíram no encalço dos indígenas. Retornaram no dia seguinte, dizendo que, “apesar do zelo e diligência”, não lograram alcançar os bugres que teriam escapado de morte certa, em direção ao morro da Bateia.

Foram esses os únicos dois ataques com morte de colonos praticado pelos nossos indígenas, até o final da administração de Schneéburg, em 1867.

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