João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Balneário Camboriú, o céu é o limite

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Balneário Camboriú, o céu é o limite

João José Leal

Dá para sentir no ar, que os governantes, empresários da construção civil e comerciantes de Balneário Camboriú estão empolgados. Neste último final de ano, a praia foi tomada por uma multidão de veranistas. Não sei se tinha mais gente do que em anos anteriores. De qualquer modo, um fervilhante formigueiro humano se comprimiu na estreita faixa de areia. Outro tanto se refrescava nas águas do mar, saltitando como crianças diante das ondas em movimento. Era uma festa de pura alegria, vivenciada pelos milhares de turistas.

Para os que comandam os destinos da Dubai Brasileira, quanto mais gente, melhor. É preciso continuar crescendo, principalmente, para cima. Para os lados, na horizontal, em frente ao oceano e à brisa refrescante do mar, o espaço acabou. A quadra do mar também já está tomada por espigões de ferro, concreto e vidro. Mesmo assim, o lema continua sendo “o céu é o limite”.

Não importa se o abastecimento de água está no limite e se alguns edifícios ficam sem o precioso líquido num tempo de verão e de calor intenso. Desgraça de uns, satisfação de outros. Caminhões-pipa, entre carros e pedestres, faziam parte do cenário da cidade. Não é só isso, porque a rede de esgoto também já está no limite da sua capacidade de tratamento. Os moradores e veranistas do bairro Pioneiros sabem bem o quanto as águas do Marambaia, hoje reduzido a uma vala malcheirosa, estão poluídas. Em matéria de saneamento básico, a política municipal é segurar a barra para o dia de hoje. O amanhã só Deus sabe!

Não importa se os mercados e restaurantes da cidade vivem lotados, com filas de espera para comprar e comer o alimento de cada dia. Não importa se o calçadão da Avenida Central encontra-se danificado, com grande parte do seu espaço ocupado por mesas e cadeiras dos bares e lanchonetes. Os transeuntes que caminhem se esquivando dos muitos obstáculos, até chegar à praia. Não importa se, nos quiosques da Beira-Mar, enormes filas de veranistas, homens e mulheres, esperam longo e insuportável tempo para ir ao banheiro, numa cena patética.

Para os que comandam a cidade, não importa se o espaço para colocar uma cadeira ou um guarda-sol na atravancada faixa de areia da praia, é disputado quase a tapa, na base do chega prá lá que aqui eu fico. Também não importa se as principais vias públicas ficam congestionadas de veículos obrigados a trafegar na base do arranca, anda e para, exigindo dos condutores paciência e resignação.

Nada disso importa. Balneário Camboriú não pode parar de construir, mesmo que só para cima e para o alto. Para as mentes iluminadas dos seus governantes municipais e da sua classe empresarial, a cidade precisa crescer a qualquer preço porque quanto mais veranista melhor. Porisso, é preciso liberdade para empreender e construir. Para o poder público municipal, o espaço aéreo vale ouro, é a nova fonte de receita. Para as grandes construtoras, o céu é o limite!

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