João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

As duas holambras, as vacas e as flores

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

As duas holambras, as vacas e as flores

João José Leal

Gosto de flores e minha esposa, Ana Maria, gosta muito mais. Então, fomos visitar Holambra, no interior de São Paulo. A pequena cidade de 15 mil habitantes foi fundada por colonos holandeses em 1948 e produz flores e plantas ornamentais vendidas para todo o Brasil. Sua história tem alguns pontos em comum com uma outra “Holambra”, a catarinense, absurdo e fracassado plano de colonização batava em nosso Estado.

Naquele mesmo ano, uma lei estadual criou o Núcleo Governador Aderbal Ramos da Silva, destinado ao “assentamento de colonos nacionais e holandeses”. Seria uma versão sulina da Holambra paulista. No entanto, só em 1954, já no governo de Irineu Bornhausen é que a lei saiu do papel. Na época, o Estado possuía vastas áreas de terra concedidas a quem requeresse. No entanto, o governo resolveu desapropriar uma produtiva fazenda pertencente ao meu avô materno, onde trabalhavam umas 20 pobres famílias brasileiras.

Com tanta terra devoluta, o governo foi logo escolher uma área situada em Tijuquinhas, localidade próxima à capital, já ocupada por agricultores brasileiros. O pior é que o plano foi um completo fracasso. As anunciadas famílias holandesas especializadas “na produção de lacticínios e em horticultura”, conforme exigência da lei, nunca apareceram para ocupar seus lotes, vendidos mais tarde para apadrinhados de políticos da época.

O plano paulista de colonização holandesa também foi um fracasso. Mas, só no começo. Deveria ser também um núcleo produtor de leite e seus derivados. Mas, esqueceram de estudar o clima de sol e calor e suas doenças tropicais do interior paulista. Esqueceram também de consultar as suas famosas vacas leiteiras de pelo branco e preto e ubre sempre cheio de leite. Aqui chegadas, adoeciam e leite não produziam. Foi um fiasco inicial.

No entanto, já estabelecidos em colônias, os 500 imigrantes holandeses não podiam mais recuar. Parece que a imigração é sempre um caminho sem volta. Então, era preciso buscar uma outra atividade agrícola e aqui permancer. Com tristeza, enterraram suas últimas vacas e passaram a criar porcos e frango. Logo em seguida, vieram outros para começar o cultivo de flores. Afinal, holandês sabe muito bem como lidar com a delicadeza das flores.

Hoje, Holambra se diz “A Cidade das Flores”. Estas, com a beleza de suas cores, podem ser vistas nos campos, nas grandes estufas de suas colônias e nas suas ruas sempre floridas. As fachadas de suas construções, imitando a paisagem arquitetônica de Amsterdam, impressionam positivamente o olhar do turista curioso. E, para a alegria dos donos de hotéis, restaurantes e do comércio de souvenirs, nos finais de semana e na sua grande exposição anual de flores, Holambra se enche de turistas.

Lá deu certo. Em Tijuquinhas, foi um desastre, um fracasso inconcebível. Vieram apenas duas famílias holandesas. Longe de produzir queijos e manteiga, aproveitaram a implantação da BR-101. Um deles logo abriu um posto de gasolina, conhecido como o “Posto do Holandês”, o outro uma floricultura. E as terras lá estão, sem vaca nem leite, possivelmente, para especulação imobiliária.

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