João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Ainda existe inverno

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Ainda existe inverno

João José Leal

No começo de junho, os meteorologistas, esses cientistas que vivem mirando os céus e as nuvens, auscultando os ventos, conferindo as correntes marítimas e do ar e consultando as mensagens espaciais dos satélites que rondam este planeta de quase 8 bilhões de almas, disseram que o inverno deste ano seria ameno e mais seco.

Mas, parece que os homens do tempo e da temperatura esqueceram de consultar Éolo e outros deuses do vento e do frio, que habitam o Olimpo Antártico. E já dá para ver que a previsão da ciência não se concretizou até hoje. Com quinze dias de estação hibernal, estamos vivendo até agora sob temperaturas frias, até geladas, mostrando que o aquecimento global, se é que está mesmo acontecendo, é um processo gradativo com idas e voltas.

A manchete da última segunda-feira deste nosso jornal de cada dia chamou a atenção dos leitores para dizer que Brusque tinha “registrado o junho mais frio dos últimos cinco anos”. E não é preciso ser estudioso do tempo e da temperatura, ter telescópios, barômetros, termômetros, computadores e internet nem outros equipamentos da moderna eletrônica para saber que o mês de junho foi realmente frio.

A verdade é que, desde o começo de junho, quando o outono já se despedia, começamos a enfrentar dias e noites mais frias até o momento da virada de estação. Então, mal começado o inverno, uma forte massa ar gelada vinda do continente antártico chegou para nos mostrar que ainda existe inverno.

O que se viu na semana passada foram três dias seguidos de neve, coisa rara num país de clima tropical. Na região serrana, os campos ficaram cobertos por lençóis de geada branca que queima as pastagens e faz despencar as folhas das árvores que, seguindo o calendário da natureza, são obrigadas a trocar o seu guarda-roupa folear a cada ano. Aqui, na região litorânea, o que sentimos na pele foi um bafo gelado que penetrava até a nossa alma de mortais pecadores, como se a pagar penitência estivéssemos, que nos fez puxar casacos, jaquetas, cobertores e tremer de frio.

Dizem alguns mais antigos que os invernos passados eram mais rigorosos. Não me parece, porque quanto mais velho fico, mais frio sinto nos invernos da minha vida. Já escrevi que envelhecer é administrar perdas, entre estas, a perda entusiasmo que aquece o nosso espírito para enfrentar sol e chuva, calor e frio e os desafios que a vida nos apresenta.

Hoje, vivemos com muito mais conforto, em habitações que nos protegem e com aquecedores elétricos que ajudam a espancar o frio. Mas, mesmo bem agasalhado, sinto muito frio. Então, imagino o sofrimento de muita gente que reside em favelas e barracos ou perambula pelas ruas.

Ontem, ainda tivemos uma manhã fria, cinzenta e chuvosa. A temperatura não passou dos 20 graus e o frio continuará por mais uma semana. Depois, talvez, tenhamos o inverno ameno anunciado em junho pelos profetas do tempo.

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