João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

ABL, a hora e vez da música popular e da TV

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

ABL, a hora e vez da música popular e da TV

João José Leal

Fundada em 1897, instalada em sua imponente sede no centro do Rio de Janeiro, um palacete construído à semelhança do Petit Trianon, de Versalhes e denominada Casa Machado de Assis, seu imortal fundador, a Academia Brasileira de Letras já conheceu o seu tempo de glória, quando os seus acadêmicos eram figuras reconhecidas e reverenciadas nos meios literários, consagrados escritores deste país. Assim foram os acadêmicos Machado de Assis, Olavo Bilac, Clóvis Beviláqua, Drummond, Guimarães Rosa, Jorge Amado tantos outros.

É verdade que, em algumas ocasiões, a ABL elegeu políticos como Getúlio Vargas e José Sarney, um general e um cirurgião plástico para compor o seu quadro de acadêmicos, escolhas que até hoje são questionadas como um equívoco, um desvio de finalidade a ser evitado. Infelizmente, isso se repetiu com a recentes escolhas da atriz Fernanda Montenegro e do cantor Gilberto Gil. Foram duas eleições para inglês ver, com candidatos únicos e resultados anunciados antes mesmo das inscrições.

Os dois escolhidos integram o seletivo rol dos notáveis dos meios de comunicação tradicionais, na área da música popular e do teatro, especialmente, da TV global. Com frequência, suas figuras de artistas populares podem ser vistas nas páginas dos jornais, revistas e nas telas da mídia televisa. Assim, ainda sem envergar o vistoso e dispendioso fardão dourado, bordado a fios ouro vindos da França, os dois saíram muito bem na foto da imprensa tradicional, que dispensou os maiores elogios e aplausos para a eleição da dupla, enaltecida como uma demonstração do espírito democrático, feminista e antirracista da Academia.

Na verdade, a eleição de Fernanda Montenegro e Gil deve ser vista como mais um lamentável desvio de finalidade praticado pelos atuais imortais das letras brasileiras. Ignoraram os melhores escritores deste país, os que fazem da escrita em prosa e verso o seu ofício principal. São eles os autênticos escritores deste país em que, se escrevendo e publicando infelizmente pouco se colhe. Mesmo assim, seguem como uma inexplicável predestinação a sua fantástica sina de romancista, contista, cronista ou de poeta, atravessando as madrugadas silenciosas povoadas de misteriosos fantasmas da inspiração.

Fernanda Montenegro, sem dúvida, é uma grande atriz que deveria integrar uma academia de artes cênicas e não de letras. Gilberto Gil representa “um Brasil profundo e cosmopolita”, disse o acadêmico Luchesi. Mas, se era para escolher um músico, há seguramente dezenas de bons compositores e cantores como Alceu Valença, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Roberto Carlos, Fagner, Xitãozinho e Xororó, com melhor credencial para representar a nossa música popular.

É lamentável. Em vez de prestigiar a Literatura, na hora de escolher um novo acadêmico, os imortais da Casa Machado de Assis preferiram promover o teatro, a TV e a música. Certamente, a sessão de posse se transformará numa tragicomédia representada ao som da boa música tropicalista.

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