Semana passada a gente passeou pelos games e tecnologia de 1988, com um guia luxuoso, o expert Eduardo Loos. Hoje, a gente vai na sugestão dele e fala sobre os gibis e graphic novels lançados naquele ano. Alguns foram lançados antes “lá fora” e apareceram aqui em 88. Em todo caso, temos aqui títulos extremamente influentes. E alguns bizarros. Quer ver?
A gente já falou aqui que a Abril, depois de décadas, vai deixar de lançar no Brasil os gibis da Disney. Para ter uma comparação, em 1988 a editora lançava dezenas de revistinhas mensalmente. Nem todos Disney… mas com vários Zé Carioca, Pato Donald, Tio Patinhas, Urtigão, Mickey, Margarida… além de Luluzinha, Hulk, Homem Aranha, Fofão…
Sim, havia muitos títulos estranhos, vindos da TV, quase todos. Alguns até teriam em comum uma linguagem pop, como a ideia de levar a Armação Ilimitada para os gibis, com esse Juba e Lula (lançado pela Nova Fronteira) que durou apenas duas edições.
Mas, se esse tipo de revista mais (ou menos) oportunista ficou perdida no tempo, outras foram de uma relevância completa. Terminamos a conversa da semana passada com Eduardo Loos destacando A Piada Mortal, uma das graphic novels do universo de Batman que viraram, mais do que clássicos, referências para histórias futuras. Como pensar o Coringa sem “The Killing Joke”?
Dá para fazer uma outra pergunta parecida: o que seria dos quadrinhos “intelectuais”, sem Sandman? O primeiro número da história criada por Neil Gaiman e Sam Kieth foi lançado em novembro de 1988, embora com data posterior. Aqui, chegou no final de 1989.
Pessoalmente, sinto que a força de Sandman vem da mitologia (re)criada pela série, que foge dos universos dos super-heróis para nos trazer arcos que, embora incrivelmente fantasiosos, parecem mais próximos das nossas vidas do que os mocinhos e vilões de Batman, para ficar em um exemplo de absoluta longevidade. Não sei se é para ficar feliz ou triste por Sandman não ter ainda feito sua transição para o cinema ou a TV. Merecia uma produção ao estilo Game of Thrones. Talvez um dia…
Dois outros títulos lançados no Brasil em 1988 tiveram suas respeitáveis transformações para cinema: V de Vingança (na verdade um título lançado mais cedo naquela década, mas que teve sua versão definitiva, colorida, lançada em 88) e Watchmen.
Ambos têm algo em comum com A Piada Mortal: a assinatura do onipresente Alan Moore. Mudam os desenhistas: no primeiro, David Lloyd. Na segunda, Dave Gibbons. V de Vingança passou a fazer parte do imaginário da Cultura Pop de tal forma que a máscara de Guy Fawkes foi adotada pelos Anonymous.
Watchmen mostra outro tipo de distopia. Aqui, super-heróis maduros, alguns decadentes e com histórias anteriores mal resolvidas, acabam se reencontrando quando um deles é assassinado.
Como esquecer o uso “nervoso” do “relógio do juízo final”?
Tem mais, claro. Tem Ronin, O Lobo Solitário, a maravilhosa e irreal Elektra Assassina, de Frank Miller. Talvez 1988 tenha sido o ápice de uma época em que tínhamos acesso a esse tipo de histórias em quadrinhos mais adulta, mais literária. Quem viveu, não esquece.
Já em termos de livros… 1988 foi o ano do lançamento de O Alquimista, de Paulo Coelho. Mas também foi o ano em que Os Versos Satânicos, de Salman Rushdie, mostrou que literatura é uma arma eficiente… Não é?