Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

História, cultura e gostosura

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

História, cultura e gostosura

Rosemari Glatz

Nas famílias que descendem de imigrantes europeus a vida acontece em torno da mesa. As receitas das omas (em alemão), das nonas (em italiano), das babcias (em polonês), das avós e das mães passam de geração a geração, embalando conversas e risadas com boa comida e perpetuando a cultura dos antepassados.

Infelizmente, sentar à mesa com a família está ficando cada vez mais raro e aí entra a importância das receitas, pois elas possibilitam um tipo muito particular de interação familiar, permitindo o registro das preferências familiares e sabores de uma época que podem virar relíquias num momento futuro, para as próximas gerações.

Relações de poder também podem ser percebidas
A receita culinária oferece a possibilidade de descobrir um pouco da história e da cultura de uma sociedade, uma vez que a memória familiar é a maior herança de uma família. A comensalidade reforça os vínculos que unem os membros de uma família e ainda indica simbolicamente as relações de poder e posições hierárquicas entre indivíduos de um mesmo grupo, algumas vezes expressando tensões, conflitos e distinções entre familiares.

Por meio da análise das receitas culinárias, também é possível decifrar códigos implícitos, como emoções, lembranças e tradições, seja de uma família ou de grupos societários. Recentemente, realizei uma pesquisa (sem rigor científico) sobre receitas de família.

Ao coletar as informações, me deparei com situações que revelaram combinações de emoções com temperos, sentimentos com receitas culinárias, saudades com aroma e sabor. Relações de poder, mistério e segredo eventualmente também puderam ser percebidas. E você, o que percebe nas receitas da sua família?

Não deixe “a tinta” se apagar
Você já deve ter constatado que os programas de culinária invadiram a TV, a internet e que diversos livros de culinária viraram best sellers. Como “toda moeda tem dois lados”, isso pode ser um ponto negativo, pois a impessoalidade e a padronização contribuem para que se perca a essência da herança familiar.

Mas, olhando pelo lado positivo, também é uma forma de registrar e compartilhar para que as receitas da comida “de casa” não se percam. Dentro deste contexto, os cadernos de receita voltaram com tudo, o que é uma ótima notícia, pois o registro das receitas nos proporciona a manutenção da memória gustativa de uma época.

Cada família tem uma receita que passa de geração para geração, normalmente escritas à mão, em um velho caderninho que, consulta após consulta, vê a tinta se apagar, e um tesouro tão valioso não deveria ter este destino. E como está o legado das receitas da sua família?

Reunindo a família
Você lembra do cheirinho de comida da casa da avó, ou do tempero da casa da mãe após cozinhar um prato especial?

Lembrou?
Isso é prova de que as receitas de família alimentam a alma, já que é pelas memórias gustativas que as emoções são processadas.

Sabendo que, muitas vezes, as receitas são transmitidas apenas de forma oral, que tal tomar a iniciativa e mobilizar sua família para um encontro – acompanhado de boa comida – para recordar momentos especiais, truques, segredos, tesouros familiares que tem sabor e aroma e, ainda, aproveitar para compartilhar cadernos de receitas, fotos, registros de receitas?

Esse tipo de encontro permite relembrar experiências e vivências pessoais, passando-as para as futuras gerações e favorecendo o desenvolvimento de vínculos com entes queridos que muitas vezes sequer tivemos a oportunidade de conhecer, ajudando a criar uma memória autobiográfica e a compreender melhor as relações familiares. É a gostosura promovendo integração e fazendo história.

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