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A República do pum pum 

Para frustração de uma significativa maioria de brasileiros, nosso presidente Bolsonaro, uma vez entronizado, viu-se acometido de uma grave crise de amnésia que, de imediato, remeteu ao olvido definitivo suas supostamente mais caras promessas de campanha, como as reformas, as privatizações, o degredo do “Toma lá, dá cá”, a governança sem viés ideológico e a […]

Para frustração de uma significativa maioria de brasileiros, nosso presidente Bolsonaro, uma vez entronizado, viu-se acometido de uma grave crise de amnésia que, de imediato, remeteu ao olvido definitivo suas supostamente mais caras promessas de campanha, como as reformas, as privatizações, o degredo do “Toma lá, dá cá”, a governança sem viés ideológico e a batalha contra a corrupção, definitivamente comprometida, após seu matrimônio de conveniência com o tenebroso e famigerado Centrão que, gostemos ou não, já detém as rédeas do poder e governa o país.

Uma promessa, no entanto, não caiu no esquecimento, possivelmente por ser parte integrante de sua personalidade, bem como componente fundamental de sua armadura ideológica de direita: armar a população do país.

Apesar de pesquisas recentes revelarem que dois terços dos brasileiros adultos se declaram contrários à posse de armas por civis, Bolsonaro insiste no projeto que considera perfeito para garantir à população a liberdade, bem como para protegê-la do crime organizado e da violência no país.

Desde a sua posse, Jair Messias tem sido o autor de mais de 25 atos alterando as regras sobre armamento, e aquilo que era disciplinado e controlado acabou virando a casa da sogra. A cereja do bolo aconteceu em fevereiro último, quando os seus decretos aumentaram o direito de posse  sobre armas de fogo, de quatro para seis por cidadão, além de permitir a aquisição de uma absurda quantidade de munição.

Além do mais, foi permitido aos civis o acesso a calibres extremamente poderosos, anteriormente restritos ao Exército e à polícia, abolindo-se também o imposto sobre a importação de armas fabricadas no exterior. E como se ainda não bastasse, permitiu-se a livre circulação de brasileiros por lugares públicos, munidos de dois trabucos na cintura.

Argumentam  os especialistas que mais armas representam mais violência e que armar a população não soluciona o problema da segurança pública, sempre obrigação do Estado, tampouco resolve a autodefesa, visto que o criminoso sempre tem a vantagem da iniciativa.

A política armamentista de Bolsonaro torna-se irresponsável por desconsiderar o temperamento emotivo, explosivo e indisciplinado da população, que vitaminado com álcool e produtos químicos, poderá protagonizar incontáveis tragédias em bailes funk, campos de futebol, desavenças no trânsito, brigas familiares e entre vizinhos, além de impulsionar atividades criminosas como a milícia e o tráfico de drogas.

Sabemos que Bolsonaro é tinhoso, imprevisível e não dá ponto sem nó. Acuado por uma CPI que averigua erros, acertos e omissões no combate ao Covid-19, tenta tirar o foco do governo central para direcioná-lo para os governadores e prefeitos, o que poderá terminar num clima de pré-guerra civil.

Ainda há tempo para que o Congresso  imponha limites à ofensiva armamentista do Planalto e desaqueça a sanha militarista de nosso presidente?