Nau sem timoneiro
Através dos compêndios de história aprendemos que só se pode vencer uma guerra com um exército e um sociedade civil sòlidamente unidos em torno de um mesmo objetivo e sob o comando de um talentoso estrategista que consiga manter motivada e unida a tropa até a aniquilação total do inimigo. Lamentavelmente não é isso que […]
Através dos compêndios de história aprendemos que só se pode vencer uma guerra com um exército e um sociedade civil sòlidamente unidos em torno de um mesmo objetivo e sob o comando de um talentoso estrategista que consiga manter motivada e unida a tropa até a aniquilação total do inimigo.
Lamentavelmente não é isso que acontece em nosso país nesta desesperada luta contra o Covid-19, que nos assola desde março do corrente ano já tendo infectado 2,5 milhões de pessoas e ceifado 90 mil vidas humanas.
A ausência de uma luz única a indicar o caminho da saída, percepções conflitantes da pandemia, um desdém pela ciência e pelas soluções que ela oferece, uma leitura política do problema e uma boa dose de incompetência na gestão tem caracterizado a esfera federal, não poucas vezes numa flagrante atitude de desrespeito à população.
Bolsonaro sempre foi um negacionista e a pandemia continua sendo, para ele, uma “gripezinha”. As recomendações das organizações cientìficas são meras tolices pois quem sabe das coisas é ele, obviamente sempre na contramão do que se pratica no mundo civilizado.
Vítima do vírus, o presidente foi flagrado, ainda contaminado, passeando de moto, sem máscara, num tête a tête com admiradores, numa demonstração de ausência de responsabilidade e bom senso.
Observe-se que nas redes sociais circulam rumores de que o presidente nunca esteve doente e de que tudo não passou de uma encenação para promover a hidroxicloroquina, que teve sua autorização de uso emergencial revogada em hospitais americanos para pacientes com Covid-19.
O presidente sempre minimizou o perigo do vírus e continuamente se posicionou contra o isolamento social e a quarentena, argumentando que somente os idosos deveriam ser trancafiados, encampando a tese de que “as consequências de não trabalhar seriam piores do que aquelas proporcionadas pelo vírus”.
Deve ter sido este posicionamento que motivou o STF a delegar a estados e municípios a competência de decidir sobre isolamento social e a quarentena, medidas altamente recomendadas pelo mundo científico para a prevenção do vírus.
Esperto, e certamente já de olho nas eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro tratou de eximir-se de toda e qualquer culpa pela crise econômica que certamente virá no rastro da pandemia, culpa que deveria ser creditada, segundo ele, a governadores e prefeitos, os verdadeiros donos da bola.
E assim o governo federal abriu mão desse papel constitucional de coordenar e conduzir o esforço nacional, ouvindo a ciência, mobilizando a sociedade e construindo estratégias com estados e municípios.
Realmente escandaloso e inaceitável é o fato de não possuirmos ministro da saúde, mas somente um general, neófito em questões de saúde, e empossado como ministro interino para cumprir as ordens do presidente da República.
Ministros de verdade já tivemos dois, ambos do ramo, que perderam o emprego por se recusar a protocolar a cloroquina, recomendada por Trump como cura milagrosa mas classificada pelas instituições científicas nacionais e internacionais como ineficaz no tratamento, além de eventualmente causar efeitos colaterais como arritmia cardíaca e lesões do fígado.
Pergunto-me constantemente sobre os motivos que levam Bolsonaro a promover com tamanha obsessão a cloroquina, catalogada como questionável na cura do vírus pelas mais importantes instituições científicas mundiais.
Ou estaria a ciência equivocada em suas conclusões. Perguntas que, sem dúvida, mereceriam uma resposta.