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A falta de preservação do patrimônio histórico

Pela imprensa tomamos conhecimento que a Comupa, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, acaba de lançar um catálogo com as obras arquitetônicas cadastradas como  “Patrimônio Cultural da Cidade”, o que as torna automaticamente intocáveis e imutáveis, com um carimbo simbólico de “ad eternum”. Fazem parte da seleta coletânea obviedades como a Igreja Matriz Católica, a […]

Pela imprensa tomamos conhecimento que a Comupa, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, acaba de lançar um catálogo com as obras arquitetônicas cadastradas como  “Patrimônio Cultural da Cidade”, o que as torna automaticamente intocáveis e imutáveis, com um carimbo simbólico de “ad eternum”.

Fazem parte da seleta coletânea obviedades como a Igreja Matriz Católica, a Igreja Luterana, o Complexo Azambuja, o Clube de Caça e Tiro e a Villa Quisisana, causando estranheza a não inclusão da Villa Goucky, residência do Cônsul Carlos Renaux na avenida Primeiro de Maio, bem como a Villa Ida, aninhada nos jardins da antiga Fábrica Renaux, também na Primeiro de Maio, e recentemente restaurada pelo empresário Luciano Hang.

 Certamente, a preocupação com nossas preciosidades históricas não deixa de ser uma atitude mais do que louvável, apesar de acontecer com duas décadas de atraso, durante as quais as autoridades responsáveis permitiram, por obscurantismo, desinteresse ou conivência, a demolição de praticamente todas as majestosas mansões da cidade, testemunho de nossas raízes europeias, bem como da pujança têxtil que nos angariou o codinome de “Capital dos Tecidos”.

Com o desaparecimento dos suntuosos casarões e seus voluptuosos  jardins, a cidade perdeu muito de sua identidade original, de seu charme e sua atmosfera, tornando-se bem menos interessante para os turistas que nos visitam.

Bem mais sorte tiveram Paris, Veneza, Viena e muitas outras cidades europeias, cujos administradores enxergaram desde o início que a fórmula do sucesso para o turismo reside na preservação do antigo.

Inserida no Vale do Itajaí, a nossa cidade costuma atrair milhares de turistas, ansiosos  por mergulhar na cultura, costumes e tradições germânicas, curtir sua gastronomia e levar para casa penduricalhos que façam recordar os bons momentos vividos na encantadora terra dos descendentes de Goethe. 

Atualmente, deixarão a cidade profundamente decepcionados, pois a germanidade brusquense há muito tempo “jaz”, pouquíssimos falam a língua e nem restaurante típico com um Eisbein com Sauerkraut no cardápio possuímos.

De genuinamente germânico em Brusque, só me recordo  de muitos sobrenomes, dos trinados da turma do canto alemão e da confeitaria Bartz, onde nas temporadas os turistas se engalfinham para curtir o Strudel, as tradicionais Schneckas e a decoração.

Sempre considerada uma cidadezinha tipicamente alemã, Brusque deve andar confusa na definição de sua identidade, não só pela gradual evaporação de seus componentes germânicos, mas principalmente pelo total desinteresse do poder público e da população em manter e cultivá-los.

Para um futuro próximo, vejo o turismo como uma máquina de imprimir dinheiro, trazendo progresso para o governo, empresas e indivíduos. Não devemos esquecer, no entanto, que o turista do século XXI é exigente, viajado e bem informado, quer qualidade e não se satisfaz com qualquer meia boca. Desta forma, a máquina do turismo deve ser gerida por profissionais e não por diletantes, que podem ter boa vontade, mas continuam diletantes.