Um mês atrás, a Morgana Moresco escreveu, aqui nas Beltranas, sobre o quanto uma mulher andando de bicicleta é assediada, aqui em Brusque. Aquele assédio que era considerado normal, até elogioso, mas que finalmente está sendo analisado como agressivo e assustador: assobios, buzinadas, aquele “gostosa” dito por quem não tem o menor direito. Ela citou o projeto Chega de Fiu Fiu, criado pela Think Olga, que tem um app que mapeia histórias de assédio.
O projeto também virou filme. Dirigido por Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão e produzido em parceria com a Brodagem Filmes. Ele foi lançado em maio e exibido em várias cidades do país. Mas se você não quer esperar que ele chegue até a região, você tem um jeito bem fácil de ter acesso a Chega de Fiu Fiu, o filme: até o final deste mês, ele está aberto para não assinantes no GNT Play, serviço de streaming do canal da Globosat. O link já está no nosso blog. Também entrou na programação do canal.
Vale a pena? Sim, muito. É o tipo de documentário que você assiste, sendo mulher, se identificando a cada depoimento. Refletindo a cada análise. Prestando atenção a cada participação masculina, seja dos autores de assédio – destaque para o sujeito que é questionado e responde “da próxima vez vou chamar você de feia” – ou o grupo que se reuniu para analisar as razões do “fiu fiu”. Posso dar um spoiler? Eles chegam à conclusão de que homens são grosseiros com as mulheres na rua para se exibir… para outros homens. Bem que a gente desconfiava…
As histórias, das mais “leves” (oi?) às mais violentas, são todas próximas, tocantes, vividas e cometidas por gente comum. Pequenos e grandes preconceitos são trazidos à luz sem retoques e sem maiores lições de moral, além da óbvia: o espaço urbano também pertence à mulher, assim como o seu corpo. É absurdo que tenhamos que ter esse medo rotineiro. Tem algo muito errado no mundo… e não são os tops colados ao corpo ou as saias curtas.
Várias vezes, durante a hora que o filme dura, fiquei pensando: toda mulher tem alguma história de assédio que vai além do “fiu fiu”. Toda mulher, seja quem seja, tem alguma situação de toque indevido, de ataque verbal chocante. É só perguntar. O mapa do projeto estaria muito mais “pinado”, se todas contassem o que já viveram.
Quer uma ideia inteligente? Assista ao documentário junto com os homens da sua família. Aproveite a oportunidade para fazê-los pensar. Afinal de contas, não sair “falando com estranhas” na rua é algo que deveria ser ensinado para os homens desde garotinhos. Não é isso que nos ensinam?
Claudia Bia – jornalista indignada
Ah, sim, isso é importante e está na página da campanha:
“Que tal você também se tornar uma exibidora do filme na sua cidade?
O documentário está disponível gratuitamente pela plataforma Taturana Mobilização Social e qualquer pessoa ou instituição pode organizar uma exibição coletiva em seu espaço e ser um parceiro do filme. Basta se cadastrar e agendar a sessão para ter acesso ao documentário.”