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Gente do campo: conheça a rotina de quem se dedica à roça em Brusque

Em meio à tantas fábricas, agricultores brusquenses tiram seu sustento da vida no campo

A vida no campo começa cedo. Por volta das 4h, os trabalhos começam e a rotina de anos se inicia para quem se dedica na roça. Mesmo em uma cidade tão industrial como Brusque, agricultores resistem para sustentar suas famílias.

Há 30 anos, Altair Pedro Schwamberger, 64, tem a roça como seu ganha-pão. Ele, o pai e os avós nasceram em Brusque e moram no bairro Dom Joaquim. O terreno que eles moram, que um dia foi unificado, atualmente está dividido entre os familiares, mas uma pastagem ainda está mantida para o trato do gado. 

“Trabalhei 11 anos na Souza Cruz, mas quando sai de lá não quis mais trabalhar entre quatro paredes”, lembra.

Todo dia seu Altair acorda às 3h45, “pode ser feriado, Natal ou Ano Novo”. Ele e a esposa moram em uma casa dividida com a filha e o genro, cada um com sua parte, mas todos levantam junto. Às 4h10, eles já estão no rancho, e alguns minutos depois, as vacas já estão sendo soltas. 

“A gente foi acostumado assim. Agora, de tarde, às 15h, já estamos ordenhando. Faz todo o serviço que tem que fazer, às 17h30 já está todo mundo livre, a não ser quando acontece algum imprevisto”.

Rotina de Altair Schwamberger começa todo dia antes das 4h | Foto: Bruno da Silva

A rotina de Francisco Petermann, 65, é parecida. Por volta das 5h, ele já está de pé para começar os trabalhos. Ele mora na região da Cristalina, em uma área mais afastada ainda do Centro, onde a estrada é de chão. Seu Francisco também cuida das vacas leiteiras e planta principalmente milho para alimentar tanto o gado quanto a própria família. “Agora estamos colhendo o que plantamos no verão”, conta.

Ele também chegou a trabalhar pouco tempo em fábricas, mas seu negócio é mesmo a roça. Atualmente, mora com a mulher e uma de suas filhas. O genro e sua outra filha moram nas redondezas e ajudam seu Francisco na roça. A neta Giovana, 11, também dá sua contribuição.

“Somos uma família grande, mas a maioria trabalha em empresas. Somente eu e dois irmãos meus continuamos na roça”.

Neta de 11 anos já dá a ajuda que pode ao avô Francisco Petermann | Foto: Bruno da Silva

Negócio familiar

Seu Altair começou com algumas poucas vacas e plantando verduras, mas, aos poucos, o leite se tornou um negócio melhor. “Fomos comprando, fizemos negócio com Azambuja, compramos mais vacas. Cheguei a vender leite para o hospital muitos anos, levando por muitos anos 160 litros por dia, o excedente vendia para a Usati, de São João Batista”.

Um tempo depois, porém, ele teve que se adaptar. O hospital parou de comprar, a usina quebrou, e seu Altair passou a focar mais nos derivados do leite. Nata e queijo pasteurizado são os principais produtos. O local onde acontece o beneficiamento do leite foi construído recentemente para que tudo fosse feito de acordo com o que mandam as autoridades. “Tudo dentro das normas de segurança”, reforça. 

Já o velho rancho continua o mesmo, sempre passando por reparos para que se mantenha de pé. Seu Altair conta que a intenção é de construir um novo, mas que a pandemia atrapalhou um pouco os seus planos.

Rancho antigo continua sendo o ganha-pão de seu Altair | Foto: Bruno da Silva

O negócio de seu Francisco passou do avô para o pai e depois para ele. “Todo mundo sempre vendia leite, e a gente foi continuando. Já fui produtor de fumo também, mas hoje estamos só com leite”. O leite é tirado e processado na propriedade, e é vendido para padarias e mercados da cidade.

É o mesmo caso de seu Altair. A produção chegou a ser de 700 litros de leite por dia, mas hoje em dia está um pouco mais devagar – chega a 500 no verão, mas é média mesmo é de 400. “Temos umas vaquinhas boas aí”, diz.

Mesmo assim, cinco famílias vivem praticamente deste negócio. A filha e o genro trabalham para seu Altair, que é aposentado. “Quem tá tocando mesmo são eles”. Até o pai, de 84 anos, entregou leite até o iníco do ano. “Era já para ter parado há uns dez anos, mas ele insistiu até que esse ano não quis mais”. Já o filho ajudou por um tempo, mas decidiu tomar outro caminho e abrir um negócio de bordados.

Dificuldades superadas: “é o que sabemos fazer”

Seu Altair diz que suas terras não são grandes e que, no passado, eles usavam terra arrendada de outras pessoas. Atualmente, porém, a paisagem do bairro mudou muito. Tem vários loteamentos, galpões, fábricas e outras empresas. “A renda é só para se manter, mas, mesmo assim, estamos sobrevivendo aqui”.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, com dias bastante difíceis e outros de muita alegria, o trabalho vale a pena.

“Tem que gostar da coisa e ser teimoso. Se não for teimoso, não toca. Tem que saber que cada dia é uma luta. Tem dia da alegria e da tristeza. Já perdi muita vaca, que morreu, mas tem vaca que dá gêmeos, é uma alegria toda. Só que assim, se quisermos leite, vaca, queijo, nós temos. Carne nunca falta. Estamos tocando assim”.

Seu Francisco destaca que, apesar de todos os pesares, em comparação ao passado, as coisas estão muito mais fáceis. Hoje temos máquinas, antigamente era tudo a mão, era muito mais difícil”

Ele resume bem o sentimento de quem persiste em trabalhar na roça mesmo em uma cidade tão industrial: é ali que sente prazer em trabalhar. “Nunca tive interesse em trabalhar em empresas, fábricas. É o que a gente sabe fazer e continuamos até hoje. Não sei quando vou parar, por enquanto estou continuando”.