Após fazer única proposta por bens, empresário revela planos para o Complexo Renaux
Newton Patrício Crespi, o Cisso, quer preservar patrimônio na avenida Primeiro de Maio e locar espaços para indústrias
O empresário Newton Patrício Crespi, o Cisso, proprietário da FIP e do grupo Oregon Administradora de Shopping Centers, revelou ao jornal O Município seus planos para parte dos imóveis da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux.
Cisso foi o único a formalizar proposta para a compra de todos os bens da massa falida da fábrica, na quarta-feira, 13, e agora aguarda a homologação da compra pela juíza da Vara Comercial de Brusque, Clarice Lanzarini, que deve analisar a proposta e dar seu parecer nas próximas semanas.
A proposta de Cisso por todos os bens da fábrica, entre eles, os imóveis da avenida Primeiro de Maio, foi de R$ 25 milhões, mais 5% de comissão, com o pagamento de uma entrada e mais cinco parcelas, num prazo de 60 meses, ou seja, cinco anos. O perito judicial havia avaliado os bens em mais de R$ 70,5 milhões.
“A primeira coisa é restaurar, deixar ela como era antigamente. Queira ou não queira, a casa faz parte da história de Brusque”.
Cisso diz que assim que a sua proposta for homologada, a restauração do casarão terá início, já que dia após dia, o imóvel sofre com o desgaste natural do tempo e precisa de reparos urgentemente.
Depois da restauração, o plano inicial é que a casa – que nos últimos anos de atividade da fábrica funcionou como ambulatório -, seja transformada em um museu da história têxtil da cidade. “Penso em fazer parcerias com entidades para transformar em museu. Seria um local perfeito para isso”.
Criação de polo têxtil na avenida Primeiro de Maio
Para os outros imóveis da empresa na avenida Primeiro de Maio, a ideia do empresário é restaurá-los e transformá-los em polo têxtil do município. Cisso pretende reformar todos os imóveis e disponibilizá-los para locação a empresas e indústrias.
“A cidade tem muitas confecções, indústrias têxteis que querem expandir, e hoje é tudo muito caro. A intenção é reformar, fazer um aluguel barato para colocar as indústrias lá e voltarmos a ter a nossa vocação têxtil”.
O empresário também planeja uma parceria com a prefeitura para melhorar a infraestrutura da avenida Primeiro de Maio, que sofre com alagamentos nas enxurradas.
“Assim que homologada a proposta, vou procurar o poder público para resolver o problema das águas. Podemos fazer as obras necessárias e descontar a longo prazo em forma de tributos”.
Investimentos a longo prazo
Cisso depende agora da homologação da proposta pela juíza. Ele avalia que o principal custo não será os R$ 25 milhões que ele ofereceu pelo patrimônio da fábrica, mas os investimentos que serão feitos a longo prazo para transformar o local em algo rentável. “O custo não é pagar, é revitalizar e fazer tudo funcionar”.
O custo de toda a revitalização necessária no local ainda não foi calculado, entretanto, o empresário estima, por baixo, que deve investir mais de R$ 1,5 milhão na restauração da Villa Ida, e em torno de R$ 5 a 6 milhões na revitalização dos demais prédios da fábrica.
“Há muitos investimentos pela frente. Se fosse simplesmente comprar, derrubar e fazer lote, poderia gastar menos, mas este não é o objetivo. O objetivo é trazer renda, trazer essa vocação brusquense do têxtil de volta”.
Liquidação de dívidas com parte dos trabalhadores
O administrador judicial da massa falida da Fábrica Renaux, Gilson Sgrott, afirma que ainda não tem como dar 100% de certeza se os R$ 25 milhões oferecidos pelo empresário serão suficientes para quitar todas as dívidas trabalhistas da empresa, já que ainda tem muita gente tentando se habilitar na lista de credores da fábrica.
“Não tenho hoje uma totalidade de valor devido por causa desses créditos que ainda estão sendo requeridos”.
Ele explica que, num primeiro momento, o crédito trabalhista dos funcionários que estavam na fábrica depois de dezembro de 2011, quando a Renaux pediu recuperação judicial, deve ser quitado com o valor da proposta do proprietário da FIP.
O advogado destaca que além dos valores arrecadados com a venda do patrimônio da empresa, também se está buscando outros valores, como de ações da Eletrobras, por exemplo. “Com isso, é possível que a gente consiga pagar um bom percentual desses credores”.
Já os credores que não são trabalhistas, como a Celesc e prefeitura, por exemplo, só receberão seus valores se sobrar algum dinheiro do pagamento dos créditos trabalhistas. “A lei das falências estipula o processo dessa forma”.
Homologação da proposta e pagamentos
Para que os planos de Cisso se tornem realidade, é preciso que a juíza da Vara Comercial de Brusque homologue a proposta. Para isso, a juíza vai intimar os credores trabalhistas, que são representados pelos sindicatos, o administrador judicial e o Ministério Público para que deem seus pareceres sobre a proposta.
“Diante dessas manifestações é que a juíza vai tomar uma posição, se aprova ou não a proposta. Vai depender da análise de todas as pessoas”, explica Sgrott.
Se aprovada a proposta, começa outro trâmite, que é a liberação dos pagamentos, que não é automática. “Como ainda não temos a totalidade da dívida, ela poderá começar a liberar pagamentos parciais, como já foi feito em alguns períodos”.
Aníbal Boettger, presidente do Sintrafite, um dos sindicatos que representam os trabalhadores, afirma que a diretoria da entidade vai se reunir e fazer uma avaliação da proposta.
“É um patrimônio que tem um valor bem superior a R$ 25 milhões e o prazo de quitação da proposta é de cinco anos, o que nos surpreendeu. Vamos nos reunir e fazer a nossa manifestação assim que formos intimados pela juíza”.