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Editorial: O Lobby para turvar a Cristalina

O anúncio da instalação da nova estação de captação e tratamento de água na Cristalina veio com a justificativa da boa qualidade da água daquela localidade. Como efeito colateral ,veio também a especulação imobiliária, que vislumbra uma valorização daquela área e tem feito um movimento para mudar o plano, adequando outros interesses. O fato em […]

O anúncio da instalação da nova estação de captação e tratamento de água na Cristalina veio com a justificativa da boa qualidade da água daquela localidade. Como efeito colateral ,veio também a especulação imobiliária, que vislumbra uma valorização daquela área e tem feito um movimento para mudar o plano, adequando outros interesses.

O fato em si de urbanizar a Cristalina não é um problema. Pode ser sim uma grande oportunidade de estruturar um bairro de forma planejada e sustentável, como retratou o artigo publicado na quarta-feira, na coluna Beltranas, enviado pelo Coletivo Plantando Água.

É o grande momento de implantar naquele bairro um novo modelo de expansão, respeitando o meio ambiente, pensando na mobilidade, na infraestrutura, na ocupação de solo e construções. Pode ser um modelo de conforto e segurança aos moradores da região e de Brusque integrado ao projeto da nova estação.

O assunto foi tema de uma audiência pública que aconteceu na Câmara de Vereadores na quinta-feira, 28, e que foi publicada aqui n’O Município. Pelo que vimos, tudo indica que o projeto vai passar longe de ser este modelo. Está mais para ser uma colcha de retalhos, cheio de emendas e de interesses escusos.

A primeira inconsistência, de que o projeto partiu de uma solicitação da comunidade, já veio à tona, com a contestação de moradores presentes na audiência. Segundo a manifestação, a iniciativa de urbanizar partiu de empresas e não da comunidade.

A grande questão é que há interesses maiores na Cristalina, como a instalação de empresas poluentes. Alguns vereadores não escondem a defesa deste projeto, como o vereador Alessandro Simas. Para ele “não podemos querer supor que vai acontecer isso ou aquilo”.

Os ocupantes dos cargos públicos vão passar, mas as suas decisões podem causar danos ambientais futuros permanentes

Simas não é o único a achar que não se pode supor o que vai acontecer quando se coloca uma empresa poluidora ao lado da captação de água. Outros vereadores e integrantes do executivo também trabalham para aprovar esta ideia. Até o Samae, que é o maior interessado em manter aquela água limpa, mantém um silêncio sepulcral em relação ao assunto.

Assim é difícil acreditar que não há um forte lobby para aprovar esta “urbanização” sob encomenda, e atender um interesse econômico em vez de vários sociais. Basta uma lei para proibir “isso ou aquilo” que polua ou que não esteja de acordo com os interesses da comunidade.

Como houve divergências na audiência, se deliberou uma nova reunião, na Cristalina, para que os vereadores consigam ouvir as opiniões da maior parte dos moradores, como se esta já não estivesse clara. A ação parece mais uma manobra, para se ganhar tempo e se pensar em como turvar um projeto que poderia ser cristalino.

Precisamos lembrar que os ocupantes dos cargos públicos vão passar, mas as suas decisões podem causar danos ambientais futuros permanentes, que vão comprometer esta e as próximas gerações se não forem contestados.

Também precisamos lembrar que acima de qualquer especulação imobiliária, de qualquer interesse pessoal e empresarial está em jogo o fornecimento de água do município, e sem água não se vive, nem em Brusque nem qualquer outro lugar do planeta.