Editorial: Bruscão das vitórias e do otimismo em meio às dificuldades
O momento do Brusque Futebol Clube era, talvez, inimaginável para o torcedor e para a imprensa há pouco mais de um mês. A equipe era a 14ª colocada da Série C, tinha oito gols marcados em nove rodadas, uma campanha inconstante e não vencia em casa há três partidas. Hoje é líder da Série C, […]
O momento do Brusque Futebol Clube era, talvez, inimaginável para o torcedor e para a imprensa há pouco mais de um mês. A equipe era a 14ª colocada da Série C, tinha oito gols marcados em nove rodadas, uma campanha inconstante e não vencia em casa há três partidas. Hoje é líder da Série C, acumulando cinco vitórias consecutivas e igualando sua maior sequência de triunfos em Campeonatos Brasileiros. Só neste período, marcou 12 gols e sofreu apenas um.
É um momento fantástico, de tranquilidade e esperança, de um clube cercado por desafios enormes no presente e num futuro muito próximo. Há pouco mais de um semestre, o cenário era absolutamente sombrio.
O ano passado havia terminado de forma terrível. Rebaixado para a Série C, sem as grandes receitas de transmissão televisiva e sem patrocinador master. A projeção feita pelo clube em dezembro era de iniciar 2023 com receitas fixas de R$ 230 mil ao mês, apenas de patrocínios, com despesas estimadas em R$ 770 mil mensais.
O projeto montado para o ano já era ambicioso, as negociações de contratos com jogadores e treinador já começavam, prevendo a permanência do patrocínio master. Sem esta receita fundamental, a diretoria já tinha uma dificuldade a mais.
E o que acontece na primeira parte da temporada? O Brusque começa ganhando a Recopa Catarinense, sem perder nenhum de seus 13 primeiros jogos. Não apenas isto, a equipe vai à sua terceira final de Campeonato Catarinense em quatro anos. Não venceu o Criciúma, que hoje briga pelo acesso à Série A. Acontece. Mas o fato é que o Brusque atuava como se não estivesse passando por nenhuma turbulência. Talvez quem não estivesse a par da situação extracampo imaginasse que tudo corria normalmente.
O que se sente no Brusque é um time unido, determinado, que está dando orgulho de ver jogar
Na Série C, o começo foi de oscilações, incertezas, preocupações com o time, também dentro de campo. Até que, depois da derrota para o Figueirense, foram feitas reuniões com elenco e comissão técnica. Desde então, já são cinco vitórias consecutivas, a liderança e a certeza de que o Brusque não voltará a chegar perto da zona de rebaixamento.
A situação financeira ainda é muito preocupante, e a diretoria não tem problema nenhum em deixar isto claro. Chegou um novo patrocinador master, há previsão de receitas por meio do acordo da Liga Forte Futebol, além de alguns ganhos menores de transferências, mas o Brusque precisa de muito mais para estar numa situação financeira confortável. Um eventual acesso à Série B seria importantíssimo, também por este motivo.
E a questão mais recente com a qual o Brusque deve lidar e se reequilibrar é a ausência de seu presidente. Danilo Rezini se licenciou para concorrer a vice-prefeito e foca em outro projeto pelos próximos meses. Claro, a diretoria quadricolor tem experiência mais do que suficiente e conhece o Brusque Futebol Clube de cima a baixo para seguir adiante. Mas, ao mesmo tempo, é inegável o peso, político e histórico, da figura de Rezini na administração. E cabe ao Brusque, por ora sem seu presidente, manter a pegada ao longo deste último mês para a sequência da Série C.
Mas são tantos desafios em 2023 que os enormes obstáculos que esperam pelo quadricolor em 2024 acabam ficando em segundo plano. Não se trata de negligência deliberada, longe disso. São simplesmente prioridades e urgências.
Não há nenhuma certeza sobre em que estádio o Brusque vai jogar no primeiro semestre do ano que vem. O contrato de aluguel do Augusto Bauer termina no fim do ano. O estádio está em reforma e, conforme o projeto, passará por deslocamento e troca do gramado. A casa da equipe no Catarinense já é uma incógnita. Para a sequência da próxima temporada, ainda mais. Este é o maior e mais evidente problema que o Brusque tem para 2024, que não vai, necessariamente, ser mitigado ou extinto em caso de acesso à Série B, diferente da questão financeira, que teria no acesso uma solução direta, seja ela total ou parcial.
Enquanto isso, o que se sente no Brusque é um time unido, determinado, que está dando orgulho de ver jogar, deixando o torcedor feliz e otimista. Uma equipe que quer contrariar as previsões do fim do ano passado, espantar a desconfiança e lutar para escrever uma página valiosa na história do clube, apesar de todas as condições materiais apontarem para a ponta oposta da tabela. Em meio aos desafios, às dificuldades, o Brusque está lutando.