Uma das queixas mais frequentes na prática médica em geral é a presença de tonturas, seja como queixa isolada ou como acompanhante de outros sintomas.
Com o aumento da idade média da população em geral e sendo que a presença de tontura é uma queixa mais frequente após a quarta década de vida, fica evidente que é um sintoma em aumento, e cada vez mais tratado tanto por clínicos gerais quanto por especialistas (otorrinolaringologistas, neurologistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, etc).
É importante aqui ressaltar que a palavra “tontura” é muito inespecífica e pode representar uma série de sintomas diferentes para pessoas diferentes.
Daí a importância que o profissional de saúde consiga na entrevista médica caracterizar com exatidão os detalhes dessa tontura que o paciente relata.
Embora a tontura seja definida como uma sensação de perturbação do equilíbrio corporal, muitos pacientes usam a palavra tontura para descrever um peso, um vazio ou uma dormência na cabeça.
Para complicar a tontura como sensação de desequilíbrio do corpo, pode estar presente como sintoma acompanhante numa infinidade de doenças como, por exemplo, ansiedade, hipertensão arterial, hipotensão arterial, diabetes, transtornos respiratórios, vasculares, gastrointestinais, renais, etc.
A vertigem é um tipo bem específico de tontura que se caracteriza por uma sensação de rotação, seja a própria pessoa girando no ambiente ou o ambiente girando ao redor da pessoa.
As características clínicas da vertigem ajudam a identificar o diagnóstico específico, assim, existem vertigens paroxísticas, transitórias, permanentes, posicionais, etc.
Os sintomas acompanhantes como náuseas, vômitos, zumbidos, sensação de queda, desvio da marcha, também tem muita importância para o diagnóstico clínico.
Quando o paciente consegue relatar com exatidão e detalhes todos seus sintomas, facilita muito a compreensão inicial e o encaminhamento do diagnóstico do seu problema.
Uma das causas mais frequentes de vertigem de aparecimento súbito provocado pela alteração da posição da cabeça (rotação, levantar ou abaixar) e de curta duração, geralmente inferior a um minuto é a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB).
A causa da VPPB é a flutuação de pequenos cristais de carbonato de cálcio que ao ficarem soltos entram nos canais semicirculares do labirinto provocando a sensação de vertigem.
Nesses casos, o tratamento é com manobras de reposicionamento desses cristais, a mais conhecida desses manobras é a manobra de Epley que serve quando os cristais estão no canal posterior, geralmente o canal do labirinto mais frequentemente acometido.
Embora no caso da VPPB o problema esteja no labirinto, isso está longe de ser uma “labirintite” e, portanto, os medicamentos comumente usados para transtornos do labirinto são ineficazes.
Pacientes que tem fatores de risco para doença vascular e apresentam um quadro súbito de vertigem devem sempre ser avaliados para a possibilidade de uma causa vascular central (infarte ou hemorragia cerebelar), geralmente nestes casos o quadro clínico é mais amplo com a presença de cefaleias e/ou alterações visuais e motoras.
A presença de crises recorrentes de vertigens, associadas a perda auditiva geralmente unilateral e zumbidos, é bastante frequente em portadores de uma doença que atinge o labirinto chamada de Doença de Meniere. Acredita-se que seja provocada por um aumento de pressão do líquido que existe dentro do labirinto (hidropsia endolinfática).
O tratamento inicial geralmente é a base de diuréticos, mas casos severos podem precisar até intervenção cirúrgica. É uma doença que parece estar com aumento progressivo da sua incidência, talvez associada ao aumento progressivo da idade média na população.
Falando de tonturas, principalmente as tonturas crônicas, com muita frequência estão associadas a condições psiquiátricas como ansiedade generalizada, síndrome do pânico, transtorno depressivo.
Esse tipo de tontura só tem controle quando se trata a doença de base, o tratamento exitoso de um quadro de ansiedade generalizada vai controlar, ao mesmo tempo, as tonturas que durante muito tempo foram atribuídas a “labirintite”.
De longe, a principal causa de tontura crônica na população em geral são os transtornos de ansiedade.
Na prática clínica, os melhores resultados no controle de sintomas de tonturas, vertigens e zumbidos são obtidos por aqueles pacientes que conseguem alterar sua rotina de vida.
Essa rotina tem que incluir atividade física regular, combinando atividades aeróbicas e de reforço muscular, adesão a uma alimentação saudável em horários adequados, priorizar o sono noturno (7-8 horas por dia) e incluir atividades de lazer e recreação durante a semana.
Na verdade, são medidas básicas que servem também como prevenção para inúmeras outras doenças. Os casos mais resistentes podem se beneficiar de sessões de terapias de reabilitação vestibular.
Um último alerta a fazer é que o uso por tempo prolongado de muitas das medicações usadas para o tratamento de “labirintite” não é recomendado porque existe o risco de apresentar efeitos colaterais significativos.
Boas festas de fim de ano e um feliz Ano Novo, prezados leitores!