Está aumentando o déficit de atenção?
Um dos passatempos de muitas pessoas é ler os comentários a alguma manchete ou post de rede social, é significativa a proporção de comentários que embora engraçados demostram que não houve a compreensão certa do que a matéria dizia ou transmitia para o leitor.
Sabemos que há pessoas que têm dificuldades com a leitura e compreensão de textos, mas como estes geralmente evitam leituras e também escrever. Podemos afirmar que uma das causas de postar comentários totalmente alheios ao conteúdo da matéria é a desatenção das pessoas. Por causa da desatenção pulamos palavras e até frases e interpretamos um texto de forma errada. A desatenção, o pensamento rápido, os textos curtos e a impulsividade parecem ser características da sociedade em que vivemos.
O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou sem Hiperatividade (TDA), embora mais relacionado à infância, existe também nos adultos, sendo uma entidade que aparece na infância ainda na idade pré-escolar pode se estender até a vida adulta geralmente numa forma mais branda. Se estima que 65% dos portadores de TDAH terão algum grau de sintomas também na sua vida adulta.
O TDAH é uma das causas mais frequentes de dificuldades no aprendizado, crianças com capacidade intelectual normal começam a ter dificuldades de aprender porque seu grau de atenção e concentração é deficiente, se distraem com facilidade com qualquer outro estímulo e principalmente com seus próprios pensamentos.
A mente de uma criança com TDAH está sempre cheia de ideias e pensamentos que se sucedem numa frequência caótica e incontrolável. O portador de TDAH tem muita dificuldade em visualizar aquilo que é essencial dentro de um contexto, é como se ao dirigir e observar pelo retrovisor em vez de enxergar apenas os veículos próximos, aparecem no seu campo visual as centenas de automóveis que estão atrás dele.
O TDAH acomete ao redor de 8 a 12% das crianças ao redor do mundo, é uma incidência muito alta. Em termos gerais existem três variantes clínicas, com prevalência de desatenção (mais frequente no sexo feminino), com prevalência de hiperatividade/impulsividade e uma terceira que mistura as duas anteriores.
Sabemos que tem um componente genético importante, entre 60 a 80% dos casos tem hereditariedade. Alguns genes tem sido relacionados com o aparecimento do TDAH, principalmente genes relacionados aos receptores de dopamina. Há muito a avançar ainda neste campo e essas alterações ainda não são úteis nem para diagnóstico nem para rastreamento de novos casos.
Existem também fatores pré-natais e perinatais que podem aumentar a incidência de TDAH, entre eles podemos citar a prematuridade, alcoolismo materno, estresse materno durante a gravidez e lesões traumáticas cerebrais no recém-nascido.
Parece ser que a persistência dos sintomas até a idade adulta também está determinada geneticamente.
Além das dificuldades no aprendizado, o TDAH está acompanhado muitas vezes de outros distúrbios entre os que podemos citar transtornos do humor, transtornos ansiosos, transtorno desafiador-opositor, quando presentes são um desafio a mais no tratamento destes pacientes.
O diagnóstico precoce das crianças com TDAH é importante para o aconselhamento de familiares, a orientação para que os pais conheçam melhor as características deste transtorno através de sites confiáveis na internet e/ou das associações de pais de crianças com déficit de atenção. A suspeita é levantada pelos pais e/ou professores quando percebem que a criança “não para”, “é elétrica”, brinca com os brinquedos apenas minutos ou segundos.
Assim como parece não se concentrar em nada pode ser que tenha uma concentração excelente para algum assunto que seja de extremo interesse pra ele, fenômeno chamado de “hiperfoco”, um exemplo frequente é a extrema concentração para determinado jogo de videogame onde passa de fases com extrema facilidade.
O Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade não tem cura, porém tem tratamento. Embora existam diversos tipos de medicamentos (estimulantes e não estimulantes) que visam melhorar a atenção e a concentração, não todas as crianças têm indicação absoluta para o uso dos mesmos. Todo caso deve ser individualizado.
Quando existem alterações comportamentais ou do humor concomitantes se faz necessário o acompanhamento psicológico preferencialmente com terapia cognitivo-comportamental.
As escolas e os professores devem estar capacitados e atentos para promover as mudanças e adaptações necessárias para que seus alunos portadores de TDAH tenham o ambiente e o tratamento diferenciado e adequado que ajude para que possam superar suas dificuldades no controle da atenção e da impulsividade.
Todos temos algum parente, amigo ou conhecido com déficit de atenção com hiperatividade, a grande maioria deles são pessoas criativas e cheias de energia, fazem parte da imensa diversidade humana, diversidade que torna nosso mundo e nossa vida mais atraente e menos monótona.
Lembro a história de um colega médico que só veio a ter ciência de ser portador de TDAH após concluir sua especialidade ao escutar uma palestra sobre o assunto, preocupado foi conversar com o palestrante que ouviu sua história atentamente, o colega perguntou o que poderia fazer para melhorar e o especialista respondeu: não precisa fazer nada, você já um sobrevivente!
Acontece com alguma frequência, quando os sintomas não são tão intensos o portador de TDAH está sempre se equilibrando e tentando domar seu cérebro barulhento e consegue superar os obstáculos acadêmicos. A grande maioria precisa de ajuda em alguma fase da sua vida, ante quaisquer suspeita não duvide em consultar com seu médico de confiança.