Como forma de preencher um vazio daquilo que não teve na infância, a diarista Benedita Romão da Silva, a Bene, de 49 anos, possui atualmente uma coleção com mais de 40 bonecas Barbie. O sonho da moradora do Primeiro de Maio somente foi possível de ser realizado há quatro anos. No entanto, de lá para cá, parece que a sua vida ganhou um novo sentido.

De família pobre, Bene e mais três irmãos viviam em um sítio na cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Com apenas 7 anos, ela já cozinhava à beira de um fogão a lenha para mais de 12 trabalhadores.

“A minha infância foi triste. Eu tinha um pai rígido, que não deixava a gente brincar. Para ele, criança tinha que trabalhar cedo. Se brincasse, nós apanhávamos”, revela a diarista, que diz que percebia que às vezes os pais não tinham condições nem de colocar comida na mesa.

“A única boneca que eu tive na infância ganhei de uma vizinha, e ela tinha o braço quebrado. Então, quando eu brincava, era com boneca de espiga de milho”.

Benedita Romão da Silva tem mais de 40 tipos diferentes de barbie na sua casa / Daiane Benso

Por isso, o maior desejo de Bene era ter condições de ter suas Barbies, aquelas bonecas que ela afirma ser fissurada. Segundo ela, o que considerava mais lindo nas bonecas era o fato de serem magrinhas e bem vestidas.

A primeira vez que Bene esteve perto de uma Barbie foi com 45 anos. Na época, ela estava em uma loja, na sessão de brinquedos, e seu esposo – Aparecido Pereira da Silva -, que já sabia do seu desejo por essas bonecas, lhe deu uma de presente. Essa foi a primeira das outras mais de 40 que viriam depois.

Nestes anos, ela já chegou a gastar até R$ 350 por uma Barbie importada, que veio da Indonésia. Porém, em geral, elas custam cerca de R$ 30. Mas o que mais fascina Bene é poder criar estilos diferentes para as suas bonecas. É a própria moradora do Primeiro de Maio que faz as roupinhas, arruma os cabelos, inclusive coloca apliques em algumas, além de inserir cílios postiços nelas.

“Eu gosto de rostinhos diferentes, de poder deixar uma com o cabelo liso e curto, a outra com o cabelo cacheado e mais comprido. Todas acabam tendo um pouco de mim. Se eu pudesse ficaria o dia todo arrumando elas”, conta Bene.

Ela diz que sente como se tivesse vencido algo que ficou para trás e que o sentimento é de satisfação e alegria. “Hoje faço o que não pude fazer na infância. É como se eu ainda fosse criança e pudesse brincar com as Barbies. Além de me deixar feliz, pra mim é uma brincadeira deixá-las arrumada”.