De quarto a escritório: home office transforma espaços dentro de casas em Brusque
Com adoção do trabalho remoto por conta da pandemia, brusquenses separaram um espaço da residência para o home office
Durante a pandemia da Covid-19 e a adoção do home office, muitas famílias viram um quarto de visitas ou um canto da casa se tornar um escritório. É a situação do casal de empresários Renata Rubick Zunino Sartori e Diogo Adami Sartori, moradores do Jardim Maluche. Ao trabalhar dentro de casa, o apartamento que tinha duas suítes sofreu alterações: um dos quartos se transformou em escritório.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), o grupo de brasileiros que trabalhou de forma remota entre os meses de maio e novembro de 2020 chegou a 8,2 milhões de pessoas. Este número representa apenas 11% dos 74 milhões de profissionais que continuaram a trabalhar durante a pandemia no Brasil.
Dentre elas está Renata, que trabalhava no ramo de intercâmbios e turismo. Ela, que era dona de uma agência, conta que ficou em alerta nos primeiros sinais da pandemia. A empresária recorda que tinha um grupo de idosos programados para embarcar para a Itália no final de março de 2020.
“Na semana antes de tudo parar por aqui, eu já estava em processo de cancelamento desse grupo. Ali comecei a perceber que a situação para o turismo poderia ser grave”, recorda.
A pandemia permanecia e Renata ainda trabalhava na agência em home office. A empresa ficou totalmente sem vendas e ela decidiu entregar a sala comercial que alugava. Contudo, a empresária idealizou um novo negócio próprio de cestas personalizadas, aberto junto com a sócia Ana Paula Trindade.
Sem o trabalho presencial, foi preciso adaptar o apartamento. A suíte extra tinha uma cama de solteiro com bicama, que era utilizada quando o casal tinha visitas ou hóspedes pelo AirBnb. “A cama que tinha no quarto foi para o sítio dos meus sogros, e uma das mesas que tinha na agência eu trouxe para montar o escritório em casa. No início era meu escritório para a agência e para a Beloved, o negócio de cestas”, explica.
Com o tempo, Renata encerrou os atendimentos da empresa de intercâmbios e manteve o foco no novo negócio e no escritório. Já Diogo trabalha remotamente em uma escrivaninha própria no quarto do casal.
Um novo espaço
Após o início da pandemia, o empresário Felipe Cavichioli, morador do bairro Primeiro de Maio, construiu um escritório anexo ao quarto dele. Ele conta que a ideia de fazer o espaço surgiu um pouco antes da pandemia, em janeiro de 2020. Entretanto, com o passar do tempo, o plano foi ficando de lado.
“Com a chegada da pandemia resolvi tirar a ideia do papel. Eu trabalhava em dois empregos. Um em período integral e outro à noite na minha casa”, conta. No período noturno, ele gerencia a Güero, uma marca própria de camisas e camisetas.
Felipe explica que o quarto, somado com o banheiro, formava um “L”, sem ter nada para o lado de fora. Nesta parte, ficavam ferramentas e materiais, como rastelo, pá e vasos. Tudo foi retirado, duas paredes foram levantadas, uma porta de acesso ao quarto foi aberta.
Espaço veio para ficar
Mesmo com o retorno de atividades presenciais em diversos setores, os novos escritórios devem permanecer. O casal Renata e Diogo planeja manter o espaço em funcionamento.
Renata explica que o local atende as necessidades do negócio, pois eles trabalham quase que exclusivamente com entregas das cestas personalizadas. “Claro que, com planos de crescimento, a ideia é migrar para um espaço maior, que permita atendimento ao público. Porém, ainda sem previsão de quando colocaremos esses planos em prática”, completa.
Já Felipe conta que construir o espaço do escritório foi uma boa solução. “Pretendo manter ele ali, para sempre. Ter esse espaço separado do quarto, mesmo com uma porta, me permite separar tempo de trabalho com lazer”, comenta.
Para ele, o formato adotado proporciona conforto e foco no trabalho.
“Quando estou no quarto consigo descansar sem pensar no trabalho, já que não vejo bem o computador e nem nada. Quando estou lá dentro, consigo focar em trabalhar sem ter vontade de voltar pra cama”, relata. Quando sente vontade de deitar na cama, Felipe conta que pega um cobertor para se cobrir no escritório.
Renata comenta que trabalhar de casa é, na maioria das vezes, um privilégio. Entretanto, a situação é também desafiadora, já que o casal não tem mais horário de trabalho.
“Principalmente quando se tem o próprio negócio. O bom é que consigo flexibilizar mais meus horários, e fazer as coisas que preciso em casa também. Como preciso estar bastante na rua por conta das cestas, não sinto que fico o dia todo no mesmo ambiente”, finaliza.
Home office e os impactos na arquitetura
Segundo a arquiteta Sabrina Pereira, da Meetri Arquitetura, após três meses do início da pandemia a empresa começou a receber alta demanda de pedidos. Eram projetos para modificar a casa, não só para trabalho, mas por aconchego, por ficarem mais tempo dentro da residência. Ou seja, proporcionando bem-estar.
Sabrina destaca que a maioria das transformações foi na cozinha, além de alterações e ampliações da casa inteira. Em relação aos impactos do trabalho remoto, a arquiteta sinaliza que mudanças foram sentidas em todo o mercado.
Em uma das experiências profissionais, ao visitar a Casacor Rio de Janeiro, Sabrina observou que profissionais buscaram refletir o home office em todos os ambientes. “Que mesclasse o trabalho e o relaxamento. Para que as pessoas pudessem ter um espaço para trabalhar e que fosse aconchegante, pois era a casa delas”, conta.
Sabrina aponta que ainda não recebeu pedidos de transformar um cômodo inteiro em escritório nos projetos. Porém, ela relata que, em muitos dos projetos que envolvem quartos, clientes pediram por um espaço para colocar o notebook e para fazer pesquisas.
Em um dos projetos feitos para uma professora, por exemplo, foi aproveitado o espaço de maquiagem para também ser uma bancada de estudos. “A gente ‘camufla’ o home office ali, mas a pessoa não trabalha no local o tempo inteiro. Porém, tem um espaço para isso quando precisar”, finaliza.
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