João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Conversas praianas – Concurso de Miss Santa Catarina

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Conversas praianas – Concurso de Miss Santa Catarina

João José Leal

Na borda da piscina do condomínio Alvorada do Atlântico, Maria Anunciatta conta suas histórias de família, muitas delas sobre fatos escandalosos envolvendo seus filhos, parentes e amigos. Ela parece não se importar com vexames de um passado de muitos anos.

Descontraída, abre a caixa-preta dos escândalos ocorridos na família. Sente que contar esses casos para as amigas é uma espécie de terapia em grupo, que só Freud talvez explique.

Dessa vez, é a história de sua filha mais velha, Alice, casada e hoje vivendo em Floripa. Maria Anunciatta abriu o peito para dizer:

— Em 1984, minha filha tinha completado 18 anos. Minhas amigas diziam que era uma das moças mais bonitas de Chapecó. Quando passava na Avenida Getúlio Vargas, não havia homem que não parasse para olhar. Os moços solteiros davam em cima para namorar com ela. Mas, Alice não queria saber de namorado firme e sim de estudar Pedagogia. Sempre se lembrava da sua primeira professora. Queria seguir a carreira do magistério, que achava a mais bonita profissão e lecionar para as crianças.

— Pois, foi naquele maldito ano que apareceu o Robertinho em Chapecó. Já contei para vocês como foi a sua chegada. Estava à procura de moça bonita para representar a nossa cidade no concurso de Miss Santa Catarina. Com aquela voz afeminada e aveludada, uma conversa macia de seduzir qualquer jovem inexperiente, encheu a cabeça de minha filha com elogios de todos os lados. Dizia ele que ali estava a mais pura beleza da mulher catarinense, cultivada longe do ambiente viciado e degradado das cidades do litoral. Jurava que Alice seria a Miss Santa Catarina daquele ano.

— Depois, foi a vez do meu marido Francisco. A eleição era garantida, garantiu-lhe o cronista. Bastava algum dinheiro para fazer o guarda-roupa da candidata, pagar a hospedagem e o transporte da torcida, três ônibus lotados para impressionar os jurados. Meu marido, pessoa simples, que fez o nosso patrimônio com muito trabalho e economia, não queria conversa sobre concurso de Miss. E, quando o Robertinho falou em dinheiro para agradar aos jurados, então, o Francisco quis bater nele. Tivemos que segurá-lo para não fazer uma besteira.

— Vocês sabem como é! Alice já tinha a cabeça feita, cheia de ilusão, no calor da sua juventude. E o coitado do pai não teve como negar. Foi um trabalho para encher três ônibus de torcedores. Ninguém queria ir, num bate e volta de mais de mil quilômetros de viagem. A muito custo, conseguimos, pagando comida e mais um dinheiro extra. E lá fomos nós levar nossa filha Alice para disputar o título de Miss Santa Catarina, na capital do Estado.

— Eram 12 candidatas. Alice acabou ficando em terceiro lugar. Em dinheiro de hoje, a brincadeira custou mais de 60 mil reais e o sumiço de Robertinho logo depois do resultado.

— Mas, Deus é grande e tudo vê. Durante o concurso, Alice conheceu um oficial da PM que se apaixonou pela sua beleza. Se o título de Miss não conquistou, um bom marido arranjou.

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