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Conheça Robson Caetano, primeiro disléxico a assumir cargo de vereador em Brusque

Atualmente, ele participa de palestras para falar sobre o assunto e dar o exemplo

Robson Caetano, 29 anos, morador do bairro Dom Joaquim, assumiu no último dia 3 uma cadeira na Câmara de Brusque. Este foi mais um sonho realizado na vida de Robson, que, desde jovem, projetava ocupar um dia aquele lugar.

Ele é o primeiro disléxico diagnosticado a assumir como vereador em Brusque. Robson conta que, quando criança, sofreu na escola por causa da falta de entendimento sobre o distúrbio, mas que muito mudou desde então. Hoje, ele espera contribuir para que a comunidade entenda, integre e respeite cada vez mais as pessoas com dislexia.

Interesse na política

O interesse de Robson na política começou em 2013, quando manifestações lotaram as ruas de todo o país. Na época, ele foi incentivado pelo diretor da escola em que estudava, Guilherme Marchewsky, que era vereador, a acompanhar uma sessão.

“Fiz amizade com todos os vereadores e, desde então, falo no sonho que eu tinha de ser vereador. Esse sonho foi crescendo até que, em 2020, recebi o convite para ser candidato”.

Inicialmente, o pai de Robson não era muito favorável à ideia, mas convencido pelo filho. “Aceitei e consegui o apoio da minha família, mas a jornada foi difícil”.

No início da campanha, não quis falar da dislexia, porque algumas pessoas falavam que ele queria usar isso como desculpa. “Mas, para mim, é uma questão de superação, para motivar as pessoas. Cada dia, na campanha, foi uma superação para mim. Tinha ansiedade, síndrome do pânico, mas fui superando, matando um leão todo dia”.

Robson recebeu 198 votos e foi o 85º candidato mais votado de Brusque, o quarto do seu partido, o Patriota. Há dois meses, como acordado pelo partido, o vereador Rick o informou que seu momento ia chegar. “Tenho muita gratidão a ele e ao Marcos Deichmann (presidente local do Patriota). Eles me ajudaram muito, me fizeram perder o medo de falar em público. Hoje em dia, está melhorando”.

Antes da primeira sessão em que teria a oportunidade de falar na tribuna, na última terça-feira, 9, ele conta que, desde a manhã, já estava pensando no que ia falar e também como a comunidade ia ver a questão da dislexia e da ansiedade. “Estou aqui porque mereci e porque as pessoas acreditaram em mim”, destaca.

Superação

Além de ocupar seu espaço na Câmara, Robson recebeu um convite da Secretaria de Educação de Brusque para participar da formação continuada dos professores da rede municipal e falar sobre a dislexia.

“Fiquei muito emocionado. Foi muito incrível. Falei sobre minha experiência. Quando descobri que era disléxico, já tinha reprovado três vezes na escola. Hoje em dia, os professores já têm esse preparo e conseguem identificar. A educação avançou bastante, me deixou muito feliz em saber”.

Desde o ano passado, é lei que alunos dislexia, déficit de atenção e hiperatividade tenham um acompanhamento integral em sala de aula, medida que o município já havia tomado anteriormente.

A dislexia é um distúrbio que afeta o cérebro dificultando a leitura e a escrita, invertendo as letras e palavras. “Tinha uma época em que eu me sentia menos do que as outras pessoas por causa da dislexia. Hoje em dia, sei que isso não é verdade. Cada dia, quero ser melhor”, conta Robson.

Participação na formação continuada dos professores de Brusque abriu portas para Robson | Foto: Arquivo pessoal

Atualmente, o vereador concilia seu trabalho na Atlântica Têxtil com os estudos – ele está no último semestre da faculdade de História. A participação na formação continuada dos professores abriu portas para ele, que tem uma agenda cheia de palestras para falar sobre o distúrbio. “Antigamente, tinha medo de ser julgado a falar das pessoas. Hoje, tenho orgulho”.

Legado

Robson vai atuar nas sessões da Câmara de Brusque por mais duas semanas, completando um mês da licença de Rick. Neste curto espaço, ele quer deixar um legado e fomentar a discussão sobre a dislexia, propondo um projeto de lei para criar em Brusque a Semana de Conscientização sobre a Dislexia, propondo realizações de palestras e fóruns para aumentar o entendimento.

“As coisas já estão mudando. Em 2014, participei de um evento sobre a dislexia promovido por Luciano Hang, que também é disléxico, e abriu muito minha mente. Agora, quero também fazer a diferença”.